Tuesday, January 20, 2009


Sandy, querida amiga lutadora, minha emoção de hoje é toda pra você!!

Confesso que, neste momento, estou emocionada.
Tenho certo temor em apostar todas as fichas no Obama.
Talvez esteja errada, mas é uma precaução.
Mas, neste momento, estou realmente com vontade de chorar.
Que todos e todas, neste mundo tão diverso, tenham direitos respeitados.
Somos diferentes e iguais! Somos!

Monday, January 19, 2009

Poemêutica

O tempo
carrega, em si,
quase todo o medo.
Falta-lhe, apenas,
a letra
do dia
d.

Saturday, January 17, 2009


acho que nem sei quem sou, só sei do que não gosto...
[p.s: e do que gosto, que é tanto!]
Serra, sítio
São Bonifácio

Pracinha, rodoviária
Vaquinha pintada

Flores, bons amigos
Banhos, rios

Lagartos, cisnes
Horácios e Marias de Lourdes

Risadas, pamonhas
Mercadinho do Seu Anito

Queijos, arroz integral
Aspargos da horta

Idro, Regina, Tadeu

Estradinha
Sol, chuva, sol

(Para o Idro)

Wednesday, January 14, 2009

Cuba, 2003: momentos (hoje deu baita saudade)

Os alojamentos da Escuela Internacional de Cine Y Televisión.

La Habana: contra los imperialistas.

Com Adriana (Colômbia), Jorane(Brasil) e Yoselin (México).

Em Viñales: o som das imagens.

Nino, mi amigo chileno.

Tuesday, January 13, 2009

Dois filmes


Vicky Cristina Barcelona fui ver no CIC, no domingo. E saí pensando na cicatriz que Vicky levou consigo, depois de Barcelona.



O Banheiro do Papa vi em casa, na segunda. Fazia tempo que queria ver, mas estava esperando o momento. E fiquei pensando que o amor pode ser mais simples do que parece.

2009

Ano de ser outra pessoa.

Virei novelo
(nenhum gatinho
que venha emaranhar)
só cada dia pra tecer
em cores
(ou P & B, tão lindo!)
sem pressa
pontos perfeitos

um ano pra não viver
perigosamente.

Poema da Regininha Carvalho, querida amiga!

Monday, January 12, 2009


Viva México!!


Guacamole

1 unidade(s) de abacate
2 dente(s) de alho amassado(s)
2 unidade(s) de tomate picado(s), sem pele(s), sem sementes
1/2 unidade(s) de cebola picado(s)
coentro picado(s)
cebolinha verde picada(s)
pimenta malagueta
(eu boto calabresa)
4 colher(es) (sopa) de suco de limão
sal


Modo de preparo

Amasse o abacate, misture os demais ingredientes.
Sirva com salgadinhos de pacote ou torradinhas.

...

Para Cléia, Carlito, Xavier, Cris, Maurício, Lauro, Lígia e Claudine - que provaram e aprovaram a guacamole feita por esta que vos escreve para o sábado entre amigos.
[Acabou tão rápido que os que chegaram depois nem viram a cor do abacate. Da próxima vez eu faço mais]

Sunday, January 11, 2009

Amarcord, de Federico Fellini: Volpina
Acontece por acaso. Ela toma uma cerveja, sozinha, num canto do bar, e pensa em Federico Fellini. É final de uma tarde qualquer de um dia qualquer de um estúpido verão qualquer. A vulgaridade do verão parece-lhe tão absurda que na maior parte dos dias prefere nem sair do próprio quarto. Nem acordar. Nem dormir. Nada. Só ficar ali.
Pensa em Federico Fellini. E entra em cena, atravessando a porta do bar, nuvem sobre o que poderia ser real, a doce Volpina. Esgueirando-se pelas paredes, sôfrega. Volpina quer tocar cada um dos homens do bar. Volpina ataca instintivamente. Volpina não se atreve a ter medo.
No canto do bar, ela já não está.

Friday, January 09, 2009

Notas de viaje

Yo me mantuve alejado de mi puesto durante años
Me dediqué a viajar, a cambiar impresiones con mis interlocutores
Me dediqué a dormir;
Pero las escenas vividas en épocas anteriores se hacían presentes en mi memoria.
Durante el baile yo pensaba en cosas absurdas:
Pensaba en unas lechugas vistas el día anterior
Al pasar delante de la cocina,
Pensaba un sinnúmero de cosas fantásticas relacionadas con mi familia;
Entretanto el barco ya había entrado al río
Se abría paso a través de un banco de medusas.
Aquellas escenas fotográficas afectaban mi espíritu,
Me obligaban a encerrarme en mi camarote;
Comía a la fuerza, me rebelaba contra mí mismo,
Constituía un peligro permanente a bordo
Puesto que en cualquier momento podía salir con un contrasentido.

Nicanor Parra

...

ando sem saber o que fazer comigo mesma...

Wednesday, January 07, 2009


2009 começou entre o Rio Tavares e o Campeche: com boas risadas, boa comida, boa bebida e bons amigos!
Bota pra rodar: Sob um céu de blues!

[Com ajuda do Alexandre:)]

Tuesday, January 06, 2009

Sob um céu de recuerdos

Tem dias em que alguns momentos de nossas vidas voltam tipo uma ventania que, além de descabelar, acende o alerta da saudade de um tempo bom. Hoje, do nada, me peguei cantarolando Sob um céu de blues, dos Cascavelletes.

Bons tempos aqueles do final dos 80. Festinha com rock gaúcho: TNT, Cascavelletes, Graforréia Xilarmônica...

Bons tempos!

Monday, January 05, 2009

Últimas leituras de 2008:

Leila Diniz, Joaquim Ferreira dos Santos
[perfis brasileiros - Companhia das Letras]

O filho eterno, Cristovão Tezza
[Record]

Desvarios no Brooklyn, Paul Auster
[Companhia das Letras]

[Todos empréstimos de Regininha Carvalho]

Saturday, January 03, 2009

[amanda e o mar. verão 2001. floripa]

[amanda e feijão. casa da vovó. férias 2003]

[amanda e flor. casa da vovó. férias 2003]

[amanda na poça, depois da chuva. casa da vovó. férias 2003]
...
...si no fuera quererte más que a la propria vida/
no me haria falta existir...

Friday, January 02, 2009

Jogo

Guardou os dados do velho jogo no saquinho de veludo vermelho. Escondeu num canto do coração. Pronto. Agora a tática seria outra. Pretendia recomeçar. Nada de decisões aleatórias ou jogadas arriscadas. Desceria as escadas pisando em todos os degraus, um após o outro, sem saltos apressados. Já embaixo, olharia sempre para frente e andaria com passo firme em direção ao lugar pré-determinado.

Mas o telefone tocou antes da saída. E ela pulou os degraus de três em três.

Tuesday, December 30, 2008

"[...] o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando".

Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

...

feliz 2009!

Saturday, December 27, 2008

La guerra és muy mala escuela

Converso com Dauro Veras, por msn, sobre a estupidez dos ataques de Israel contra a região da Faixa de Gaza, na manhã deste sábado, 27 de dezembro.

Insensatez do belicismo capitalista. Tristeza. Na canção de Jorge Drexler, o desabafo: "A nadie le dí permiso/Para matar en mi nombre":


Milonga Del Moro Judio
Jorge Drexler

Por cada muro un lamento
En jerusalén la dorada
Y mil vidas malgastadas
Por cada mandamiento.
Yo soy polvo de tu viento
Y aunque sangro de tu herida,
Y cada piedra querida
Guarda mi amor más profundo,
No hay una piedra en el mundo
Que valga lo que una vida.

Yo soy un moro judío
Que vive con los cristianos,
No sé que dios es el mío
Ni cuales son mis hermanos.

No hay muerto que no me duela,
No hay un bando ganador,
No hay nada más que dolor
Y otra vida que se vuela.
La guerra es muy mala escuela
No importa el disfraz que viste,
Perdonen que no me aliste
Bajo ninguna bandera,
Vale más cualquier quimera
Que un trozo de tela triste.

Y a nadie le dí permiso
Para matar en mi nombre,
Un hombre no es más que un hombre
Y si hay dios, así lo quiso.
El mismo suelo que piso
Seguirá, yo me habré ido;
Rumbo también del olvido
No hay doctrina que no vaya,
Y no hay pueblo que no se haya
Creído el pueblo elegido.

Friday, December 26, 2008

[Hoje faz 36 anos. Olhando para trás é uma imensidão.
Pra frente, mais ainda.]

Wednesday, December 10, 2008

Thursday, December 04, 2008

Dor que nunca passa

Marina Silva (*)

Nos anos 1970, quando abriam a BR-364 no Acre, ela cortou ao meio o Seringal Bagaço, onde eu morava com minha família. À derrubada da mata seguiu-se uma epidemia violenta e incontrolável de sarampo e malária. Era gente doente ou morrendo em quase todas as casas. Perdi um primo e meu tio Pedro Ney, que foi uma das pessoas mais importantes da minha infância. Morreu minha irmã de quase dois anos e, quinze dias depois, outra irmã, de seis meses. Seis meses depois, morreu minha mãe. Tudo era avassalador, assustador. Uma dor enorme, extrema, e que nunca passou. Para sair disso, tivemos que reconstruir, praticamente, o sentido inteiro do mundo. Aceitar o inaceitável, mas carregá-lo para sempre dentro de si. Ir em frente, enfrentar a dureza do cotidiano, sobreviver, cuidar dos outros. Viver, enfim, e dar muito valor à vida e às pessoas.Em 1985, numa das maiores enchentes do rio Acre em Rio Branco, eu morava no bairro Cidade Nova, na periferia da cidade, numa pequena casa de onde tivemos que sair às pressas, levando o que foi possível numa canoa. O resto foi levado pelas águas, inclusive o único retrato que tínhamos de minha mãe.

Penso agora nisso tudo e acho que consigo entender o que sentem os catarinenses, mas ainda estou longe de alcançar o significado estarrecedor de uma perda tão total e instantânea como a que sofreram. Na escuridão, o morro descendo, destruindo tudo, a busca desesperada pelos filhos, a impotência. E, depois, descobrir-se só em meio ao caos: acabou a casa, foram-se as pessoas amadas, o lugar no mundo. Não há mais nada, só a vida física e a força do espírito.Meus filhos andam pela casa com todo vigor, com toda a beleza da juventude, e sequer consigo imaginar o que seria, de uma hora para outra, vê-los engolidos pela terra, debaixo de toneladas de escombros ou mutilados para o resto da vida. É algo terrível demais até no plano da imaginação. Fere a própria alma tão fundo que chega a ser impossível entender plenamente a profunda tristeza de quem enfrenta essa realidade.

Na Londres de 1624, os sinos da catedral de São Paulo, onde o poeta John Donne era o Deão, tocavam quase ininterruptamente anunciando as milhares de mortes causadas pela peste. Atingido por grave enfermidade (que chegou a ser confundida com a peste) Donne escreveu então um de seus textos mais conhecidos, a Meditação XVII: "Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de teus amigos ou mesmo tua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."

Hoje, no mundo, os sinos dobram por todos nós e para nos acordar. Grandes desastres podem virar acontecimentos corriqueiros. Não se pode afirmar peremptoriamente que a tragédia de Santa Catarina deriva, em linha direta, das mudanças climáticas identificadas no relatório do IPCC, o Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU. Mas em tudo se assemelha às previsões de possíveis impactos da mudança no clima do sul do Brasil, até o final do século 21.A natureza, numa pedagogia sinistra, parece exemplificar o que significam esses fenômenos extremos que, em várias regiões do planeta, tenderão a provocar períodos de seca muito mais severos e outros com precipitações intensas.As ações de mitigação necessárias e as adaptações para enfrentar esses efeitos e reduzir nossa vulnerabilidade diante deles, ainda são precárias e estão atrasadas. Os países ricos, detentores de recursos, conhecimento e tecnologia, já avançam em medidas para se proteger. As piores conseqüências deverão recair sobre os países pobres e os em desenvolvimento. A urgência é auto-explicável.

Não é um cientista quem o diz e nem um livro. É a natureza, cujos avisos e alertas têm sido insanamente ignorados.O Brasil, que ontem lançou o seu Plano Nacional de Mudanças Climáticas, não tem como deixar de fazer a sua parte, mesmo sem os meios disponíveis nos países ricos. O acontecido em Santa Catarina é um sintoma e deve ser seguido de um esforço de grandes proporções, de início imediato, para tentar evitar que se repita.É preciso que cada um de nós, autoridades públicas, empresas e cidadãos, pensemos nos mortos, nas famílias inteiras soterradas, nas vidas destroçadas debaixo do barro, antes de sermos tolerantes com ocupação em encostas, com destruição de matas ciliares, com o adensamento de áreas de risco, com mudanças de conveniência nas legislações. Não há mais espaço para empurrar os problemas ambientais com a barriga, como tentam fazer alguns, e deixar para "o próximo" o ônus de medidas ditas antipáticas. A omissão que ceifa vidas humanas tem que acabar, mesmo à custa de incompreensões.Nos tempos atuais, há mais um componente na agenda ética: não se deixar corromper diante das pressões para ignorar a proteção ambiental e as medidas de precaução exigidas pela intensificação dos fenômenos naturais.

Quem detém algum tipo de representação pública deve se convencer de que é preciso mudar profunda, rápida e estruturalmente os usos e costumes, de modo a preparar o País para um futuro de sérios desafios ambientais. Cada vez mais, não é só uma questão de errar, corrigir o erro e aprender com ele. Agora a palavra de ordem é prevenir o erro, para que não se repitam os olhares perdidos, os rostos esvaziados, o choro inconsolável, a desesperança e as mortes que vimos nesses últimos dias em Santa Catarina

(*) Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Sunday, November 30, 2008

Hipótese de trajetória para um vestido de noiva

Cena 1 - Quarto de casa do interior - Interior

É novembro de 1978. Uma mulher, ELA, 24 anos, olha-se no espelho. Vemos apenas detalhes do seu rosto, do seu corpo. Não sabemos como ELA é realmente. Ouvimos sua respiração ofegante. Está vestida de noiva. O corte do vestido é clássico, discreto. Renda bem ajustada num corte perfeito. O cabelo está preso por um laço com pequenas flores que arrematam o penteado. Em cima da cama, que está logo atrás da mulher, vemos uma mala de roupas. A mala é vermelha e está aberta.

Cena 2 - Igreja - Interior

Um homem, ELE, 28 anos, está no altar. Vemos apenas detalhes de seu rosto, não sabemos como ele é realmente. Ouvimos sua respiração ofegante. Poucas pessoas espalham-se pelos bancos da igreja.

Cena 3 - Rodoviária de interior - Externa

O ônibus chega. ELA está na rodoviária - uma pequena casinha de madeira pintada de verde e azul, com uma porta apertada - com o mesmo vestido de noiva e a mala vermelha na mão. O cabelo está solto. Não há mais flores.

Cena 4 - Igreja - Interna

Detalhes dos bancos, do chão, das imagens da igreja. Ouvimos a respiração ofegante dELE.

Cena 5 - Rodoviária do interior - Externa

O ônibus parte. Ouvimos a respiração ofegante dELA. É o único som.

Cena 6 - Ginásio do Corpo de Bombeiros - Interno

É novembro de 2008. Num ginásio do Corpo de Bombeiros, em Florianópolis, voluntários separam donativos para os atingidos pelas chuvas em Santa Catarina. No monte dos vestidos, um vestido de noiva, corte clássico, discreto. Algumas manchas amareladas. Do outro lado, no amontoado de coisas a triar, uma mala vermelha. Ainda há uma respiração ofegante no ar.


(O vestido de noiva e a mala vermelha estavam, realmente, entre as montanhas de donativos no centro de triagem do Corpo de Bombeiros, da Trindade, na Capital, na tarde deste domingo, 30 de novembro. O resto é pura ficção).

Friday, November 28, 2008

"A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc etc.
Perdoai. Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso em renovar o homem usando borboletas".
Manoel de Barros

Monday, November 24, 2008


Smoke - Cortina de Fumaça

Grande filme dirigido por Wayne Wang. Roteiro de Paul Auster, baseado num conto do próprio: “O Conto de Natal de Auggie Wren”.

Sobre Auster, achei um texto bem bacana de Denilson Lopes, professor da UnB, autor e organizador, entre outros, de O cinema dos anos 1990 (2005).

Título do texto já é sugestivo: Andando com Paul Auster.

Tuesday, November 18, 2008

Necessariamente, tudo isso chegará ao fim. Tento enxergar lá na frente: daqui uns seis, oito anos, como contarei essa história? Contarei, de alguma forma. E, por certo, ela já será passado. E, por justiça, quero que seja com um bom final. Sim, eu já queria saber, hoje, como vai terminar. Já sei pois, de certa forma, os sinais me apontam. E são muitos. Mas ainda aperta o peito a necessidade de fim, de paz. Espero, mesmo, que esse futuro chegue o mais breve possível.

Monday, November 17, 2008


Menina e palhaço
Sábado, 15 de novembro de 2008.
Campeche, Ilha.
Festa do Miguel, filho do Dauro e da Laura.
Diversão. Amigos. Alegria.
Amanda e o espelho do Palhaço Borboleta.
(foto: Dauro Veras)

Sunday, November 16, 2008

Das coisas que me fazem feliz:

Faço miojo com suco de laranja pra Amanda, num domingo chuvoso, e ela me diz:
- Mãe, que delícia esse almoço!

É simples assim.

Wednesday, November 12, 2008

Making of via blog

Maneira nova e bacana de acompanhar a produção de filmes é através dos blogs mantidos pelos próprios diretores. Fernando Meirelles fez isso no Diário de Blindness. Almodóvar também contou os detalhes de Los abrazos rotos.

Aqui na Ilha, o cineasta Chico Pereira, vencedor do DOC TV 2008, conta num blog as histórias do documentário Audácia. O doc trata da Operação Barriga Verde, com foco em acontecimentos e personagens que, na década de 1970, conviveram - ou foram forçados a conviver - na Colônia Penal Agrícola de Canasvieiras, na Capital. Fonte importante para o doc é o livro Os quatro cantos do sol: Operação Barriga Verde, do jornalista Celso Martins.

Confere !
micro-conto-de-manhã-chuvosa

Obviamente o certo deveria ser que eu confiasse no que meu coração teimava dizer: vai lá! Fui, mas atrasei meia hora. A chuva me prendeu no trânsito mais tempo que o necessário para chegar naquele encontro.
Não por acaso.

Wednesday, November 05, 2008


Adoro as "véia" do Frank!


Monday, November 03, 2008

Amanda:
- Mãe, olha só: quando eu crescer vou ter que fazer tudo isso que você faz? Essa correria??
Eu:
- Vai, filha...
Amanda:
- Putz!!!

Friday, October 24, 2008

'Só erra quem produz. Mas, só produz quem não tem medo de errar."

Octavio Paz
[escritor, poeta e diplomata mexicano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1990]

Wednesday, October 22, 2008

Da oficina de contos do SESC [primeiro semestre de 2008]

Vértigo

Tinha pés miúdos, lembro bem. E, mesmo assim, subia depressa. Sim, depressa, mas com o cuidado de quem ajeita as flores de um caixão. Pé ali, pé aqui. Pé ali, pé aqui.
E eu ficava lá, boba, olhando. Aos 16 anos, achava que não alcançaria, nunca, a certeza de seus pés pequenos de menino sobre o tronco daquela árvore cheia de rugas e segredos nossos.
Tinha medo, na verdade. Tinha medo.
Um dia, talvez, eu arrancaria com os dentes alguma coragem, do fundo de meu pânico, e subiria rápido também.
Só não esperava aquele gesto. Não dele.
- Vem – disse-me.
E eu, louca de raiva - saliva doce entre os lábios -, alcancei-lhe a mão.
Foi o começo do abismo.

Passei a viver da vertigem.
Anotava cada dia depois de dia num caderninho velho.
Abismo, abismo.
Sonhava-me com asas nos pés. E anotava. Sonhava-me um tronco forte. Sem medos. E escrevia lá cada detalhe de minha fortaleza. Enxergava seus pés miúdos e certeiros procurando os meus, débeis.

Fui ele mesmo, o abismo. Tentação súbita, ao seu lado.
Era exato e certeiro, sempre. Segurava-me como árvore frondosa. E dava-me às alturas. Árvore-homem-árvore.

Passei os anos vivendo a vertigem.
Até o fim.
Apoiando-me nas paredes, subi as escadas tortas. Segurando-me em meus braços, vinha eu. Olhei para cima, antes. A mesma sensação encravada no peito, como pedra atirada em ninho-passarinho. Tentei seguir-lhe o exemplo: pé aqui, pé ali.
Faltou-me a mão estendida:
- Vem.
Faltou-me. Estava presa ao gesto:
- Vem.
Subi, lenta. Saliva fria entre os lábios. Nenhuma raiva.
Já no alto, alívio-dor.
Abri a porta do quarto, sentia o cheiro ácido do desespero.
Aproximei-me da cama. Olhos fechados, nenhum suspiro, último. Pareceu-me, assim mesmo, com a certeza de sempre.
Dei-lhe um beijo nos pés miúdos. Beijei-lhe todos os pedaços, com o cuidado de quem se despede.
Foi, eterno, o começo do abismo.

Adriane Canan

Friday, October 17, 2008

Imortais, claro

É por ser gremista - e ter bons amigos - que agora faço parte de um seleto grupo de jornalistas imortais que escrevem no blog Onze Mosqueteiros. Estamos lá, por ordem alfabética: eu (sim, pq eu começo com A), Andressa Taffarel, Carol Mazzonetto, Cássio Turra, Diego Zucolotto, Emerson Gasperin, Gastão Cassel - gremista de quatro costados e o grande responsável por tudo isso! -, Jeferson Cioatto, Marta Scherer, Rayana Borba e Upiara Boschi.

Reproduzo abaixo a minha primeira participação no blog:

Um tio querido, um time amado

Vou estrear aqui contando uma história singela, mas que diz bastante do meu sentimento em relação ao Grêmio.

Meu pai é colorado. Pasmem, cheguei a torcer pro Inter ganhar o tal campeonato mundial - quando foi mesmo?! Das duas, uma: ou o pai teria um ataque do coração de tristeza ou um de alegria... Perigava meu velho sofrer demais, então decidi que seria melhor de alegria. Convenhamos que, pra uma filha, nada como ver o pai feliz, apesar de colorado.

Mas foi só.Meu pai é colorado. E eu, desde pequena, sabia disso ouvindo os gritos dele - "Figueroa! Figueroa!" - , nos domingos de jogo. Naquele tempo o co-irmão tinha bons jogadores, justiça seja feita. Acontece que, além de colorado, meu pai era tratorista. Lá nos idos da década de 70, interior de Santa Catarina, o pai abriu muita estrada ligando as cidades do Oeste. Saía de casa na segunda, voltava no sábado. Nos víamos muito pouco, eu e o pai, naquelas épocas. Nos víamos nos domingos. Por causa do trabalho, ele passou algum tempo distante de mim. Tempo fundamental para alguém decidir o time do coração.

Meu tio mais novo, que morava com a gente, era GREMISTA. E estava sempre comigo. Não que o pai não quisesse ou fosse relapso, mas o tio teve, nesta época, a vantagem de brincar comigo todos os dias. E ele é o tio mais querido do mundo. Me deu uma camiseta do Grêmio, de malha, decote "V", coisa mais linda. Eu devia ter uns 4 ou 5 anos. O tio sabia das coisas. Me levava pra tudo que era lado: ia namorar, me levava junto! Ia buscar fruta no interior, com seu fuscão azul, e me levava junto. Me dava aulas de violão. Me ensinou o hino do Grêmio.

A verdade é que, quando meu pai percebeu, era tarde demais.

Te amo mesmo assim, pai!



Passa lá no blog!

Monday, October 06, 2008

Thursday, October 02, 2008

Exercícios de oficina

Cada coisa tinha o devido lugar em sua vida. Decisões minuciosas. As meias na gaveta das meias, e separadas sempre por cor – verde com verde, fúcsia com fúcsia. A mesma coisa na geladeira: nada mudava de lugar, nunca. O lugar do pote de manteiga seria sempre o lugar do pote de manteiga, e ponto. Para as coisas do coração havia uma decisão antiga e não menos taxativa: elegera a cama de solteiro da casa dos pais como herança.
Ela trocava a fronha todos os dias: amanhecia sempre encharcada.


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Comecei cedo a perceber que não caberia em espaços pequenos: gostava de admirar o céu nas noites quentes, imaginando-me em cada estrela, tocando cada uma delas com as mãos. E era a imensidão. Daí deitava na cama e fechava os olhos: e era a imensidão.


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Vestia saia florida e blusa vermelha. Sentada no ponto do ônibus, cabelos grisalhos, olhou-me assim que cheguei:
- Morax aqui pertinho, nega?
Não, eu disse, moro um pouco mais pra lá, na direção da universidade.
- Tu não conhecex a minha filha, guria? A Lucileide? Ela mora por aqui...
Não, disse eu novamente.
Ajeitou-se nervosa no banco. Calçava sandálias de plástico e respirava com a mesma rapidez com que movia as mãos junto à bolsa de renda:
- Ela também non pára em casa, nega, nunca vi, ô!

Wednesday, October 01, 2008


Mafalda

A personagem Mafalda, do artista gráfico argentino Quino, completou 44 anos no dia 29.09. Adoro essa quarentona!


Tuesday, September 30, 2008

Republicando [conversa com Amanda, de janeiro de 2007)


Sobre o céu

Eu e Amanda voltamos de Florianópolis pra Chapecó de avião, no domingo passado, dia 7 de janeiro. A Gol tem umas promoções boas e até o povo do Old West agora tem vez nos céus catarinenses. E o céu estava lindão. Azul com nuvens branquinhas, branquinhas.

Amanda:

- Mãe, é assim que é o céu?

Eu:

- É, estamos no céu. Que lindo, né? Parece que estamos num sonho!

Amanda:

- Mãe, me conta a verdade?

Eu:

- Que verdade, filha?

Amanda:

- Sobre o céu, ué. Você sabe toda a verdade sobre o céu?

Eu:

- Só sei que é bonito, olha ali que lindo, tão azulzinho!

Amanda:

- A vovó disse que a gente fica invisível quando vai pro céu. Eu não quero ficar invisível. Queria brincar assim, como sou!

Eu:

- Mas estamos no céu e estamos brincando de sonhar no meio das nuvens!

Amanda:

- É, pode ser. Mas acho que ainda não sei toda a verdade sobre o céu. A vovó deve saber. Um dia ela me conta.

Thursday, September 11, 2008

De fraternidades

Andava a passos rápidos. Queria comprar flores. Tinha pressa. Quase corria, na verdade. Quase corria. Não fosse assim, perderia o enterro do irmão.

Álvaro era, antes de tudo, seu irmão. Sim, seu. Mesmo que se perdesse entre os seis que a vida impusera, era ele o mais irmão.

Corria, quase. Não fosse assim, perderia o enterro do irmão.

Álvaro crescera entre cuidados, nascido frágil, de sete meses. Puxava-o, anos a fio, ele sentado no carrinho de madeira. Adorava. Foi até os 8 anos de Álvaro. Seus 11.

Corria. Talvez comprasse lírios.

Na adolescência de Álvaro, faltou-lhes a mãe. Cada irmão seguiu caminho. Álvaro ficou com a avó. Lembrava-lhe o choro na despedida.

Doiam-lhe os pés, a esta altura. Quase sem fôlego, dobrou a esquina. Encontrou aberta a floricultura. Sentiu frio.

Tuesday, September 09, 2008

Duas vezes, acreditar

Se, a sobressaltos, o coração quase insone
teme minutos futuros
Vem, rápida, a esperança e a fé-mãe
dizendo: paciência!

[Deus está por perto
e não abandona o inocente]

Thursday, September 04, 2008

Depois de quase tudo

Oito meses, quatro dias, três horas e cinco minutos. Ela contava o tempo a partir do fim. Era como se, depois daquele adeus, a vida tivesse realmente começado. Ela havia decidido assim. E estava dando certo. Estava.

Foi na esquina da padaria. Um lugar qualquer, num momento qualquer, final de tarde, depois de tudo. A respiração começou a se alterar, do nada. Estranho, suava, de repente. Colocou a mão no peito: coração batia descompassado. Chorou.

Pequena lembrança, mínima, atravessara-lhe a mente. Teria que recomeçar a contagem.

Saturday, August 23, 2008


Minha filha faz 8 anos hoje!
Pra você, Amanda:

Canção mínima

Cecília Meireles

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro.

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

Sunday, August 03, 2008

Republicando:

Da série Escritos

(1)

Sobre Paris (duas ou três considerações, de rua ou de sonho)
Adriane Canan (abril de 2002 - Sur-Marne)

Os pés em Paris/Negros como o breu da noite/ Os pés em Paris/ Panos coloridos como um sábado/ Os pés em Paris/ Negros olhos transfigurados num ocidente antropófago/O menino é romeno, chora na mão pelo dinheiro que pede/ Chora a mãe no ventre pelos filhos que carrega/ Choram os pés em Paris/ (Barulho do metrô) /Silêncio nas ruas sepultadas de história/ O peso da cultura nos olhos absortos do intelectual/ E a bicha velha que importa o corpo-menino-asiático por pão e sexo/ O rio gelado e os turistas medíocres que posam de ricos ao som de Edith Piaf/ Os grandes pintores pendurados nas paredes do Louvre/ (Barulho de passos no corredor)/ Arte vale muito?/ A Torre Eiffel e os souvenirs de pobre/ A Place Vendome e a morte da nobre-plebéia-donzela-prostituta que trepava com o milionário egípcio/ Armani,Mont Blanc/ O homem aluga o menino para pedir esmolas/Os pés em Paris/ (Sonho com o Pablo)/ As escadarias de Nogent-Sur-Marne e a tranquilidade na casa da Irina/ As putas-travestis-argelinas do Kadet/ Fotos pra ficar na festa/Os olhos azuis da Lara percorrem a escola de artes/ E a alemã ex-comunista foi para os Estados Unidos do World Trade Center/ (Penso na Amanda)/ O português arrota arrogância e come seus próprios eus/ As baianas são negras como os negros da Estação Les Halles/ Os andinos não recebem palmas/ Os judeus fazem doces no Mares e jogam bombas nos palestinos/ Enquanto o Mc Donalds de Paris tem cabelo no Big Mac/ A França vota numa eleição silenciosa como a morte/Sem pombos/ Uma capa de chuva verde-limão e um dia livre para compras em Paris/ Pausa.

Wednesday, July 16, 2008

De pertencimentos

Adriane Canan

Epifânia sempre foi mulher de posses. Anote-se: um fusca amarelo, ano 67 - que ela guarda envolto numa capa de pano marrom, um papagaio rouco, três sacolas de feira bordadas à mão, dois jogos de louça bem bonita, sete toalhas de prato pintadas para cada dia da semana, uma casa de madeira, anos 50, silenciosa, encolhida entre dois prédios do centro da cidade, e um suspiro inacabado, preso no fundo do peito.

A verdade é que pouco importa para a história saber o que Epifânia possui. Por direta oposição, nos interessa aquilo que falta. E se o que tem já está listado, apontemos, então, o que ficou vazio. Anote-se: o lado direito de uma cama de casal herdada dos pais, falecidos há 30 anos, quando ela beirava os 45, o lado esquerdo de um armário de madeira com prateleiras, cabideiro para roupas e chapéu, espaço para três pares de sapato, e um bom dia amor numa manhã de inverno.

É tudo.

Thursday, June 26, 2008

Friday, June 06, 2008

"El Viaje"
Schwenke y Nilo

Señores denme permiso
pa'decirles que no creo
lo que dicen las noticias
lo que cuentan en los diarios
lo que entiendo por miseria
lo que digo por justicia
lo que entiendo por cantante
lo que digo a cada instante
lo que dejo en el pasado
las historias que he contado
o algún odio arrepentido.

Para que ustedes no esperen
que mi canto tenga risa
para que mi vida entera
les quede al descubierto
para que sepan que miento
como lo hacen los poetas
que por amarse a sí mismos
su vida es un gran concierto
déjenme decirles esto
que me aprieta la camisa
cuando me escondo por dentro.

Y si alguno quiere risa
tiene que volver la vista
ir mirando las vitrinas
que adornan las poblaciones
o mirar hacia la calle
donde juegan esos niños
a pedir monedas de hambre
aspirando pegamento
pa' calmar tanto tormento
que les da la economía
cierto que da risa...

Pero yo creo que saben
donde duermen esos niños
congelados en el frío
tendidos al pavimento
colgando de las cornisas
comiéndose a la justicia
para darle tiempo al diario
que se ocupe del deporte
para distraer la mente
para desviar la vista

De este viaje
Por nuestra historia
Por los conceptos...
Por el paisaje...

Monday, May 19, 2008


12 Segundos de Oscuridad


Jorge Drexler

Gira el haz de luz
para que se vea desde alta mar.
Yo buscaba el rumbo de regreso
sin quererlo encontrar.

Pie detrás de pie
iba tras el pulso de claridad
la noche cerrada, apenas se abría,
se volvía a cerrar.

Un faro quieto nada sería
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

Para que se vea desde alta mar...
De poco le sirve al navegante
que no sepa esperar.

Pie detrás de pie
no hay otra manera de caminar
la noche del Cabo
revelada en un inmenso radar.

Un faro para, sólo de día,
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

Thursday, May 15, 2008

A arte de ser feliz

Já anoitecia. Um ônibus urbano lotado e a hora de voltar para casa. Mãe e filha voltavam, juntas. A mãe levava a pequena, quase três anos, sentada ao colo, agarradinhas que estavam depois de um dia inteiro separadas: uma no trabalho, outra na escola.
Ela apareceu de repente, enorme: - Mãe, olha! – gritou a menina. O dedinho apontava o céu atrás dos prédios: – É a lua!
Riram alto de tanta beleza e luz. E divertiram-se olhando e acenando.
Ponto 38. Cordinha. Sinal de parada. Licença, licença. Desceram.
Já na calçada, a menina-filha se desespera. Rosto lívido, aponta o ônibus já arrancando e seguindo rumo. Grita, outra vez: - Mãe, a lua?
Pavor.
Depois do beijo quase eterno na mãozinha que treme a perda, a mãe aponta o céu.
A pequena sorri e abraça a mãe, com o suspiro-paz das coisas que permanecem.

Saturday, May 10, 2008

Do blog do Pedro Almodóvar (sobre viagens e blogues):

MI FILOSOFIA DEL DESPLAZAMIENTO

Cada vez que me levanto para salir de viaje siento una necesidad irresistible de quedarme en casa. Como si cada viaje significara el final de una etapa de mi vida, que el viaje convierte en pérdida irreparable. No importa que la razón del viaje sea placentera y lúdica. Esta sensación, mezcla de fracaso, melancolía y nostalgia anticipada, me acompaña siempre que salgo de viaje.

Camino del aeropuerto de Torrejón voy leyendo El País y Les Inrocks. Y siento una repentina y urgente necesidad de leer todos los libros que aparecen reseñados en el suplemento literario Babelia, (“El asombroso viaje de Pomponio Flato”, de Eduardo Mendoza, “Dios no es bueno” de Christopher Hitchens,... etc.) ver todos los espectáculos que recomienda, comprar todos los discos que me atraen a primera vista en Les Inrocks, escucharlos todos, y seleccionar los que me seducen de inmediato.

Cada vez que voy camino de un aeropuerto creo que estoy abandonando mi propia vida, y que voy a la deriva. Cuando llego al aeropuerto empiezo a tomar las primeras notas, acompañado por la agradable presencia de las Esclavas del Deseo (Bárbara Peiró, mi Intermediaria con el Mundo Exterior, Lola García, Responsable de Asuntos Internos, Esther García, Directora de Producción de El Deseo) mi hermano Agustín, su mujer Casilda y un torbellino llamada Bibiana, que llega arrebatada a causa de su apretadísima agenda monegasca. Además de los múltiples actos oficiales ella tiene su propio programa, sus propios programas, quiero decir, que incluyen “el Programa de Ana Rosa”, alguna revista de moda y algún programa de radio. Por su parte, Boris Izaguirre viene pisándonos los talones, por amistad, implicación emocional y por la exclusiva que ha acordado con el semanario “Hola” para escribir la crónica del evento, a dos palmos de sus protagonistas.


Los Alaska-Vaquerizo verterán sus experiencias en su recién nacido blog, y yo, como Vds. están viendo, hago lo propio con el mío.Le comento a Bibi mi extrañeza ante tal acumulación de cronistas. ¿No nos estamos pasando yendo de Emperadores de la Movida y multiplicándonos a la vez en cronistas exhaustivos de nosotros mismos? ¿No hay algo depredador respecto a sus serenas altezas monegascas, inconscientes de lo que se les viene encima?Tengo la impresión de que estamos saltándonos una etapa en el proceso natural de “vivir para contarlo”.

Me vienen a la memoria los primeros tiempos del periodismo-ficción, cuando Truman Capote formaba parte del equipaje de los Rolling Stones en su gira rusa, allá por los años 70.
Pasando por alto que ninguno de nosotros posee un gramo del talento de Capote, no sé si me parece buena idea que, en un exceso de entusiasmo, nos hayamos convertido en nuestros propios Capotes.

Thursday, May 01, 2008


Estou trabalhando na divulgação da Mostra de Cinema Infantil, que acontece de 27 de junho a 13 de julho em Floripa. Fiquem de olho aí, amigos do cinema, as inscrições foram prorrogadas até 10 de maio. Tem produção pra inscrever? Clica aqui.

Tuesday, April 29, 2008


Hoje, às 19 horas, no hall da Reitoria da UFSC, tem lançamento do livro "O novo conto catarina", coletânea organizada pela querida professora Regina Carvalho.

O amigo Dauro Veras tem conto no livro. E é dos bons: Pura Sorte.


Vamos prestigiar.

Wednesday, April 23, 2008


Valei-me, meu São Jorge Guerreiro!

Wednesday, April 09, 2008

La soledad
(Pablo Milanés)


Es un pájaro grande multicolor
Que ya no tiene alas para volar
Y cada nuevo intento da más
Dolor.

La soledad
Anida en la garganta para esperar
El grito que se arranca con su
Cantar cuando llega el silencio
Del desamor.

La soledad
A veces tiene ganas de acompañar
El rostro que recuerda mal
Aquel amor que nunca fue para
Soñar.

La soledad
Inventa la más bella aparición
Remueve los rincones del corazón
Para quedarse sola la soledad...
Con su niñez
Su mocedad
Con su vejez
Para llorar
Para morir
En soledad...
aleatórios afazeres:

1.tocar a vida lembrando que existem vários caminhos.
2.decidir o melhor caminho em cada momento - e mudar de idéia, logo adiante.


Monday, April 07, 2008

poquito a poco aprendiendo
que no vale la pena andar por andar

Thursday, April 03, 2008

Solidariedade

Estamos numa campanha por votos no vídeo de nossa amiga Nilza, numa promoção da Jovem Pan, para ganhar um apartamento. Nilza é uma grande mulher, uma batalhadora, que não deixa a deficiência visual ser limite para sua independência. Mora sozinha, trabalha 12 horas por dia, paga aluguel e toca a vida. É minha vizinha, aqui em Florianópolis.

Vai lá: clique aqui

Assista. Depois, clique nas estrelinhas que aparecem ao lado (de preferência nas cinco). Preencha seus dados, confirme o código de segurança e vote. Você vai receber no seu e-mail uma mensagem de confirmação. Acesse e confirme, só assim o voto será computado.

Avise os amigos e amigas! Os dez mais votados serão finalistas!

A Nilza conta com a gente!

Almodóvar

Agora em blog e contanto tudo sobre o novo filme: Los abrazos rotos.

Friday, March 28, 2008

antes de mais nada
preciso deixar de lado algumas coisas inúteis:

pequenos pedaços do que já pareceu infinito
fatias de desnecessários pensares e insondáveis dores

reflexos desencontrados
papéis nunca vividos
limites racionalizados

restos de abandono
pingos de inércia
buracos com fundo falso

antes de mais nada
vai demorar um pouco.


NOTAS DE VIAJE

Yo me mantuve alejado de mi puesto durante años
Me dediqué a viajar, a cambiar impresiones con mis interlocutores
Me dediqué a dormir;
Pero las escenas vividas en épocas anteriores se hacían presentes en mi memoria.
Durante el baile yo pensaba en cosas absurdas:
Pensaba en unas lechugas vistas el día anterior
Al pasar delante de la cocina,
Pensaba un sinnúmero de cosas fantásticas relacionadas con mi familia;
Entretanto el barco ya había entrado al río
Se abría paso a través de un banco de medusas.
Aquellas escenas fotográficas afectaban mi espíritu,
Me obligaban a encerrarme en mi camarote;
Comía a la fuerza, me rebelaba contra mí mismo,
Constituía un peligro permanente a bordo
Puesto que en cualquier momento podía salir con un contrasentido.


Nicanor Parra, De Poemas y antipoemas (Santiago, Nascimento,1954)

Tuesday, March 25, 2008

um dia frágil

A fragilidade é algo tão estranho que tenho até medo de falar sobre ela. Mas hoje, especialmente hoje, me senti tão frágil ao acordar que pensei que coisa é essa de sentir-se quase ameaçada, quase sem forças. Com o passar da manhã a sensação foi diminuindo. Agora, o pensamento, que se governa, continuou pensando que coisa é essa de sentir-se frágil. Talvez seja essa coisa da condição humana de ser tão pequeno e achar-se tão grande. Sei lá. Sensação estranha. Vontade de estar pertinho da família. Gosto tanto deles, do pai e da mãe. E hoje sei que viveram um dia difícil, mas vai passar. E virá uma sensação boa. Não nos sentiremos menos frágeis, mas um pouco mais fortes.

A mostra fotográfica 100 histórias, com fotos da Europa, África e Oriente Médio, abre na próxima segunda, 31, às 19 horas, na Assembléia Legislativa de SC. São fotos do fotógrafo italiano Matt Cornes e do espanhol Guillermo Valle. A exposição pode ser visitada até 11 de abril e a organização é dos amigos jornalistas Fernando Evangelista e Juliana Kroeger.

Friday, March 14, 2008

depende, todo depende
de según como se mire
todo depende

Jarabe de Palo

Wednesday, March 12, 2008

Vinte coisas sobre a última mudança:

1. Já fiz quinze mudanças na vida. Parece sempre a primeira.
2. Gosto de me acostumar com o novo.
3. Nas primeiras manhãs, acordo sem saber onde estou.
4. Meses depois, a sensação continua.
5. Acho que nunca sei onde estou ao acordar.
6. Repito ações automáticas da casa antiga na casa nova: apalpo o vazio para abrir gavetas imaginárias, tento entrar onde não há portas, vou ao banheiro pensando em ir para o quarto.
7. Tento imaginar como são os vizinhos.
8. Comparo com os antigos e misturo tudo.
9. Reflito sobre qual foi o melhor pãozinho de padaria que já tive pertinho de casa.
10. Descubro que minha filha cresceu bastante desde a mudança anterior.
11. Percebo que sua mudança também deu um salto: Amanda já tem muita história pra quem tem sete anos.
12. Reencontro amigos.
13. Fico cansada pra caramba e não consigo acertar os plugs dos eletrônicos.
14. Perco coisas e ganho coisas.
15. Fico confusa por não saber se realmente saberei um dia onde é meu lugar no mundo.
16. Sinto saudades.
17. Faço amigos novos.
18. Volto pra mesma cidade onde já vivi.
19. Penso se faria tudo de novo.
20. Frajola, uma gatinha, e Pretinho, cãozinho dengoso, são os novos amigos da rua.

me gusta hablar de cosas sin razón

Monday, January 21, 2008

O presente

Li no blog do Dauro Veras a indicação para a matéria da Elaine Brum, da Época. Vale conferir a viagem que a repórter fez nos caminhos do auto-conhecimento.

"Nessa guerra no território do corpo, o inimigo era eu. Parar de sofrer dependia apenas de mim. E eu tinha acabado de descobrir que, ao contrário do que eu acreditara até então, eu não era resistente à dor. Sempre fui orgulhosa demais para admitir que sentia dor, porque sempre confundi fragilidade com fracasso. Chorei de novo. Dessa vez, porque percebi que essa era a luta mais difícil".

Wednesday, January 16, 2008

tentando mudar
o rumo e a velocidade
vou descobrindo algo no meio
entre oito e oitenta

Sunday, January 06, 2008

Foto de Léia Cook

No Pienses de Mas
Jorge Drexler

No pienses de más
cuando te quedes sola.
No pienses de más,
no dejes pasar las horas.
La vida es así,
cambia el viento, cambia la estación,
no siempre se encuentrauna razón...
No pienses de más
No esperes de mí que venga y te lleve lejos,
no esperes por mí,
yo no puedo dar consejos.

No me hagas hablar,
no te traigo más que esta canción,
yo no entiendo ni a mi corazón...
No pienses de más
No me escuches no ves que estoy dolido...
No me sigas, yo también estoy perdido...
Y no todo se ve mirando por una lupa,
no todo se ve, no sé de quien fué la culpa,
nunca lo sabrás, cambia el viento,
cambia la estación,
no siempre se encuentra una razón...
No pienses de más

Sunday, December 30, 2007

[...] Deixando de lado, seja o que é impraticável, seja o que é em excesso difícil, cuidemos de fazer o que está a mão e corrobora nossas expectativas. Saibamos que todas elas são transitórias, ainda que exteriorizando diversidades, no íntimo, são mesmo voláteis [...]

Sêneca [ a tranqüilidade da alma]
demasiado tarde para compreender...

Friday, December 28, 2007

2008... hay que hacerlo!

Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca Muerta no me encuentre
Vacio y solo sin haber hecho lo suficiente.

Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Despues que una garra me araño esta suerte.

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Solo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cantos no lo olviden facilmente.

Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

De Leon Gieco

Friday, December 21, 2007

Música, hermosa música
Ganhei da amiga Diana um cd cheio de música boa. Conheci Chambao, grupo andaluz, Jarabe de Palo, de Barcelona, e Aterciopelados, da Colômbia.
Me gustó mucho! Gracias, Diana!
Déjame vivir
[Jarabe de Palo]
Déjame vivir/Libre/Como las palomas/Que anidan en mi ventana/Mi compañía/Cada vez que tú te vas./ Déjame vivir/Libre/Libre como el aire/Me enseñaste a volar/Y ahora/Me cortas las alas./
Y volver a ser yo mismo/Y que tú vuelvas a ser tú/Libre/Libre como el aire/Déjame vivir/Libre/Pero a mi manera/Y volver a respirar/De ese aire/Que me vuelve a la vida/Pero a mi manera./
Y volver a ser yo mismo/Y que tú vuelvas a ser tú/Libre/Pero a tu manera/Y volver a ser yo mismo/Y que tú vuelvas a ser tú/Libre/Libre como el aire.

Tuesday, December 18, 2007

A Sílvia Pavesi me deu uma ilha de presente. Ela fica em algum lugar do Caribe e a Sílvia fotografou do navio, enquanto fazia a travessia da Colômbia para o Panamá.
Aliás, grande experiência dela e do companheiro, Eumano Silva, num navio cargueiro sobre as águas caribeñas.



Olha o navio aí (ela também mandou o navio!). Lembrei, mais uma vez, de Florentino Ariza e Fermina Daza, do Amor nos tempos do cólera (post abaixo), em sua viagem pelo rio e em seu amor de meio século!


Terminei de reler O amor nos tempos do cólera, do Gabo. Confesso que li devagar, querendo não terminar. A história de Florentino Ariza e Fermina Daza está agora nas telas e deve entrar em cartaz nos cinemas brasileiros a partir da próxima semana. As críticas que li até agora não são lá muito animadoras, mesmo assim espero para conferir. Dirigido pelo inglês Mike Newell (Harry Potter e o Cálice de Fogo), o filme tem no elenco atores de diferentes países. Entre eles, a italiana Giovanna Mezzogiorno e o espanhol Javier Bardem como protagonistas, além de Fernanda Montenegro no papel de Tránsito Ariza.

Vale conferir o que disse Javier Bardem (sempre vale!) sobre o filme e outras cositas más em entrevista durante o Festival de Cinema de La Habana: confira

Sunday, December 09, 2007

notas de percurso (1)

ensolarada a ponto de virar luz
viu-se disposta a nunca mais anoitecer

Wednesday, December 05, 2007




Viva La Habana y el cine!


O 29º Festival Internacional del Nuevo Cine Latino Americano começou nesta terça, 4 de dezembro, em La Habana, Cuba, com show do argentino Fito Paez e exibição de Redacted, novo filme de Brian de Palma. O Brasil está concorrendo com O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger, e Achados e perdidos, de José Joffily, entre outros.

San Pancho en Medellin
"Era um sábado de sol quente e o calor só aumentou a alegria dos devotos de San Pancho que bailavam e cantavam pelas ruas e praças de Medellin. Saias rodadas e coloridas, maquiagem cintilante e um batuque bem africano lembravam o carnaval. San Panchito em destaque no alto de um carro com placa de Moravia, no Choclo, departamento da costa pacífica da Colômbia, onde é padroeiro".


O texto e a foto acima são da jornalista Sílvia Pavesi. Confira a viagem que ela e o jornalista Eumano Silva estão fazendo pela América Latina nos endereços:

Tuesday, December 04, 2007

Sobre encontros e amizades

Lisboa, um dia de abril de 2002, 17 horas.

Mochila nas costas, acabo de chegar na capital portuguesa, cinco horas depois de partir num ônibus de Sevilha, na Espanha. Pego o metrô e desço próximo ao Rossio, bairro da Lisboa Pombalina, da cidade antiga, assim como a Alfama, coroada pelo Castelo de São Jorge, que olha para mim pendurado no morro logo à frente. Deixo as coisas num hotelzinho barato do Rossio e, mesmo cansada, pergunto ao recepcionista uma dica de lugar para um lanchinho, quiçá um pequeno passeio antes de descansar para as pernadas do dia seguinte. Queria conhecer a Lisboa verdadeira, não a dos turistas apressados. E, por sorte, conseguiria, pois algo bem especial estava reservado para aquele dia.

- Podes tomar o eléctrico e subir ao Castelo. Estarás a ter uma bela vista do Tejo a esta hora.

Pareceu-me uma boa idéia, afinal o eléctrico passava logo em frente à Praça do Rossio e, lá do alto, o Castelo de São Jorge fazia um convite irrecusável. Fui.

Lá em cima, a vista do Tejo, ao entardecer, tinha nuanças de fado. Aproximei-me da mureta de pedras medievais para mirar o todo. E foi neste momento que nos encontramos. Ele estava também a mirar o Tejo e sua melancolia de final de tarde.

- Olá -, eu disse. Sou brasileira e acabo de chegar.

- Pois sejas bem vinda -, com um sorriso enorme.

Chama-se Alberto e quando nos conhecemos tinha 70 anos. Português da gema, tem a história de seu país nas veias e sabe contá-la. Descemos a pé a colina que sustenta o Castelo de São Jorge, tomamos um café na Alfama. Levou-me a conhecer uma confeitaria que Fernando Pessoa amava, mas que não é famosa em Lisboa (sim, pois por sorte o turismo canibal não a atingiu) e lá pude sentir-me um pouco portuguesa e os versos de Pessoa me deixaram tonta de alegria.

Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca (...)
O GUARDADOR DE REBANHOS (IX)

Passeamos pelo Rossio, mostrou-me o Teatro Nacional D. Maria II, falou-me de cinema (é sócio da Cinemateca Portuguesa e vai ao cinema mais de três vezes por semana), de poesia e teatro (outros dois vícios), de vida (o vício mais profundo!). Contou-me da esposa, que havia perdido há pouco tempo, vítima de câncer.

Perguntou-me do Brasil, de nossas diferenças, dos resquícios da colônia. Criticou a si e seus patrícios pela exploração nos idos coloniais e, por verdadeiro que é, disse-me que sofre muito hoje ao ver brasileiros ainda sendo explorados em seu país e em toda a Europa.

Contei-lhe de Amanda, minha filha, então com quase dois anos, e de todos os planos que me acompanhavam.

Nos despedimos próximo das onze horas da noite. Ele voltaria para Almada, onde mora, do outro lado do Tejo. Eu - se é que eu era ainda eu, pois teria que pensar muito naquelas mais de cinco horas de conversa e de histórias de vida para entender-me novamente -, voltaria para o hotelzinho do Rossio.

Disse-me:

- Viva muito, menina! Viva!

Pedi que me deixasse seu endereço postal. Queria mandar-lhe algo do Brasil, apesar de saber que tudo seria pouco diante de tanta coisa que aprendi em poucas horas.

Faz cinco anos que nos correspondemos mensalmente. Nunca mais nos vimos (espero que 2008 me permita visitá-lo com Amanda). Me envia envelopes cheios de informações sobre todas as atividades culturais que participa, mostras de cinema, teatro, música. É o mais árduo incentivador de minha vontade de ser roteirista. Viajou para Cuba, por minha pressão, para conhecer o que eu lhe mostrei por fotos. Minha filha, Amanda, já se corresponde com ele. Aprendeu a ler também com os livros de literatura portuguesa que ele mandou.

Alberto está com 75 anos. Conta histórias para deficientes visuais todas as tardes, numa instituição ali perto. Leva-os a passear pelo Tejo e conta-lhes as nuanças deste rio que exala fado.

Já me contou muitas histórias e me fez ver muita coisa com sua experiência de vida e capacidade de cuidar, de ser amigo.

Obrigada, Seu Alberto.

Friday, November 23, 2007

À Lygia. E à Ana

Minha admiração por Lygia Fagundes Telles é antiga. Quando li Pomba enamorada ou Uma história de amor, me senti meio presa. Não conseguiria mais esquecer. Alguns anos depois, quando encontrei a escritora caminhando pelos corredores da Feira do Livro de Porto Alegre (momento delicioso da capital gaúcha, principalmente para quem ama a literatura e a primavera!) me senti na obrigação de agradecer-lhe.
- Coisa mais linda é escrever assim, Dona Lygia!

Já a Ana eu conheci em poucas conversas. Ela é ascensorista, num prédio bem antigo da Rua da Praia, também em Porto Alegre. Eu ai sempre lá pra buscar uma pessoa. E esperava no hall de entrada. E ela estava sempre lá. Dentro do elevador. E sempre lendo alguma coisa. Um dia provoquei, meio óbvia, pra começar a conversa: “Gostas de ler?”. Ela estava lendo Saramago. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim. A Ana era bem magrinha, uns 45 anos: “Adoro!”. Nos tornamos amigas. Conversamos sobre muitos livros. Uma figura a Ana, subindo e descendo com literatura.

Um dia, tentei escrever um conto pensando nas duas. Saiu o que segue. Usando as duas, mesmo sem pedir licença. Mas com muito carinho. O conto integra o livro Contos de Oficina 28 (WS Editor/Porto Alegre/2002), organizado pelo professor e escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, super mestre, que nos deu aula durante um ano.


Da série Contos de Gaveta:
(5)
Minha vida é um livro aberto
(Adriane Canan - Porto Alegre/2002)

Ana chega ao trabalho com o livro embaixo do braço. A mesma cena de sempre: o livro embaixo do braço, a sacola marrom com o almoço e o casaquinho para a saída, no início da noite. Entra no prédio comercial da Rua dos Andradas. Dá um bom dia simples ao porteiro e espera o elevador. A porta se abre e Ana dá um passo para dentro. Aperta o botão para prender o elevador e baixa o banquinho para sentar-se. Ajeita a sacola no cantinho. Ajeita também o corpo magro no cantinho, acomodando-se com tranqüilidade em seu lugar cotidiano. Tira o livro debaixo do braço e vai para a página 30, na marcação de ontem.

- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo...

Chega a moça da imobiliária do terceiro andar. Entra no elevador e a saudação vem do olhar. Ana aperta o botão com o número três. “Sobe”. Fecha-se.

Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada...

O terceiro andar tem poucas salas ocupadas, mas sempre há um office-boy esperando para subir mais, entregar mais encomendas, falar com o senhor fulano do oitavo. Ana segura o botão: a secretária sai, o garoto entra, agitado com o rádio nos ouvidos. Ana é quieta. “Sobe”. Fecha-se.

Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou a olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha um sorriso meio inocente, meio malicioso.

“Oitavo”. A porta do elevador se abre e o boy desce apontando a cabeça para um lado e para outro, procurando a sala, o número, o senhor fulano. Ana segura um pouco o elevador. Deixa a porta se fechar devagarinho, como aprendeu a controlar. Fecha-se.

- Ricardo, abre isso imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida.


Naquele horário das nove e pouco o movimento é lento no prédio. Ana desce até o térreo sozinha.

Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr-do-sol mais bonito do mundo.
Ela sacudia a portinhola.

Ana lembra-se da filha.. Fica pouco com ela. Passa mais tempo ali, das oito às seis. O elevador está de volta ao térreo. O porteiro olha um folheto de loja. A porta fica aberta. O elevador preso.
Chegam dois rapazes da representação técnica do décimo. Ana espera um pouco. O porteiro grita: “sobe”. Entram mais dois, desconhecidos, para o quinto. O porteiro grita: “sobe”. Entram mais três, os advogados do sétimo. Ana dá uma olhada para fora. Solta o elevador. A porta bate, o elevador é velho, de prédio velho. Faz oito anos que Ana conhece aquilo ali. Começa a subida. Ana conhece bem os comandos. Ana conhece bem cada pessoa daquele prédio. Ana abre e fecha.

Guardando a chave no bolso ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:

São muitas pessoas no elevador.
- Não!

“Quinto”. Abre. Descem os desconhecidos. “Sobe”. Fecha-se.

Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado...

Os advogados sempre conversam muito no elevador. Atrapalham a leitura. Mas Ana é quieta. “Sétimo”. Ana tem os controles, faz a porta abrir-se devagar, angustiante.

Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento.

Os advogados descem. “Sobe”. Fecha-se. Passa o nono, chega ao décimo. Abre. Descem os técnicos do décimo. “Desce”. A porta se fecha devagar. O elevador desce devagar. Ana está terminando, ali, sozinha, no cantinho.

Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.

Térreo. Abre-se. Ana vira a página para o próximo conto.


**As passagens em itálico foram retiradas do conto "Venha ver o pôr-do-sol", de Lygia Fagundes Telles

Monday, November 05, 2007

céu
terra