Sunday, December 30, 2007
Sêneca [ a tranqüilidade da alma]
Friday, December 28, 2007
Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca Muerta no me encuentre
Vacio y solo sin haber hecho lo suficiente.
Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Despues que una garra me araño esta suerte.
Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.
Solo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cantos no lo olviden facilmente.
Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.
De Leon Gieco
Friday, December 21, 2007

Ganhei da amiga Diana um cd cheio de música boa. Conheci Chambao, grupo andaluz, Jarabe de Palo, de Barcelona, e Aterciopelados, da Colômbia.
Me gustó mucho! Gracias, Diana!
[Jarabe de Palo]
Tuesday, December 18, 2007



Vale conferir o que disse Javier Bardem (sempre vale!) sobre o filme e outras cositas más em entrevista durante o Festival de Cinema de La Habana: confira
Sunday, December 09, 2007
Wednesday, December 05, 2007

"Era um sábado de sol quente e o calor só aumentou a alegria dos devotos de San Pancho que bailavam e cantavam pelas ruas e praças de Medellin. Saias rodadas e coloridas, maquiagem cintilante e um batuque bem africano lembravam o carnaval. San Panchito em destaque no alto de um carro com placa de Moravia, no Choclo, departamento da costa pacífica da Colômbia, onde é padroeiro".
Tuesday, December 04, 2007
Lisboa, um dia de abril de 2002, 17 horas.
Mochila nas costas, acabo de chegar na capital portuguesa, cinco horas depois de partir num ônibus de Sevilha, na Espanha. Pego o metrô e desço próximo ao Rossio, bairro da Lisboa Pombalina, da cidade antiga, assim como a Alfama, coroada pelo Castelo de São Jorge, que olha para mim pendurado no morro logo à frente. Deixo as coisas num hotelzinho barato do Rossio e, mesmo cansada, pergunto ao recepcionista uma dica de lugar para um lanchinho, quiçá um pequeno passeio antes de descansar para as pernadas do dia seguinte. Queria conhecer a Lisboa verdadeira, não a dos turistas apressados. E, por sorte, conseguiria, pois algo bem especial estava reservado para aquele dia.
- Podes tomar o eléctrico e subir ao Castelo. Estarás a ter uma bela vista do Tejo a esta hora.
Pareceu-me uma boa idéia, afinal o eléctrico passava logo em frente à Praça do Rossio e, lá do alto, o Castelo de São Jorge fazia um convite irrecusável. Fui.
Lá em cima, a vista do Tejo, ao entardecer, tinha nuanças de fado. Aproximei-me da mureta de pedras medievais para mirar o todo. E foi neste momento que nos encontramos. Ele estava também a mirar o Tejo e sua melancolia de final de tarde.
- Olá -, eu disse. Sou brasileira e acabo de chegar.
- Pois sejas bem vinda -, com um sorriso enorme.
Chama-se Alberto e quando nos conhecemos tinha 70 anos. Português da gema, tem a história de seu país nas veias e sabe contá-la. Descemos a pé a colina que sustenta o Castelo de São Jorge, tomamos um café na Alfama. Levou-me a conhecer uma confeitaria que Fernando Pessoa amava, mas que não é famosa em Lisboa (sim, pois por sorte o turismo canibal não a atingiu) e lá pude sentir-me um pouco portuguesa e os versos de Pessoa me deixaram tonta de alegria.
Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca (...)
O GUARDADOR DE REBANHOS (IX)
Passeamos pelo Rossio, mostrou-me o Teatro Nacional D. Maria II, falou-me de cinema (é sócio da Cinemateca Portuguesa e vai ao cinema mais de três vezes por semana), de poesia e teatro (outros dois vícios), de vida (o vício mais profundo!). Contou-me da esposa, que havia perdido há pouco tempo, vítima de câncer.
Perguntou-me do Brasil, de nossas diferenças, dos resquícios da colônia. Criticou a si e seus patrícios pela exploração nos idos coloniais e, por verdadeiro que é, disse-me que sofre muito hoje ao ver brasileiros ainda sendo explorados em seu país e em toda a Europa.
Contei-lhe de Amanda, minha filha, então com quase dois anos, e de todos os planos que me acompanhavam.
Nos despedimos próximo das onze horas da noite. Ele voltaria para Almada, onde mora, do outro lado do Tejo. Eu - se é que eu era ainda eu, pois teria que pensar muito naquelas mais de cinco horas de conversa e de histórias de vida para entender-me novamente -, voltaria para o hotelzinho do Rossio.
Disse-me:
- Viva muito, menina! Viva!
Pedi que me deixasse seu endereço postal. Queria mandar-lhe algo do Brasil, apesar de saber que tudo seria pouco diante de tanta coisa que aprendi em poucas horas.
Faz cinco anos que nos correspondemos mensalmente. Nunca mais nos vimos (espero que 2008 me permita visitá-lo com Amanda). Me envia envelopes cheios de informações sobre todas as atividades culturais que participa, mostras de cinema, teatro, música. É o mais árduo incentivador de minha vontade de ser roteirista. Viajou para Cuba, por minha pressão, para conhecer o que eu lhe mostrei por fotos. Minha filha, Amanda, já se corresponde com ele. Aprendeu a ler também com os livros de literatura portuguesa que ele mandou.
Alberto está com 75 anos. Conta histórias para deficientes visuais todas as tardes, numa instituição ali perto. Leva-os a passear pelo Tejo e conta-lhes as nuanças deste rio que exala fado.
Já me contou muitas histórias e me fez ver muita coisa com sua experiência de vida e capacidade de cuidar, de ser amigo.
Obrigada, Seu Alberto.
Friday, November 23, 2007
Já a Ana eu conheci em poucas conversas. Ela é ascensorista, num prédio bem antigo da Rua da Praia, também em Porto Alegre. Eu ai sempre lá pra buscar uma pessoa. E esperava no hall de entrada. E ela estava sempre lá. Dentro do elevador. E sempre lendo alguma coisa. Um dia provoquei, meio óbvia, pra começar a conversa: “Gostas de ler?”. Ela estava lendo Saramago. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim. A Ana era bem magrinha, uns 45 anos: “Adoro!”. Nos tornamos amigas. Conversamos sobre muitos livros. Uma figura a Ana, subindo e descendo com literatura.
Um dia, tentei escrever um conto pensando nas duas. Saiu o que segue. Usando as duas, mesmo sem pedir licença. Mas com muito carinho. O conto integra o livro Contos de Oficina 28 (WS Editor/Porto Alegre/2002), organizado pelo professor e escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, super mestre, que nos deu aula durante um ano.
Da série Contos de Gaveta:
Ana chega ao trabalho com o livro embaixo do braço. A mesma cena de sempre: o livro embaixo do braço, a sacola marrom com o almoço e o casaquinho para a saída, no início da noite. Entra no prédio comercial da Rua dos Andradas. Dá um bom dia simples ao porteiro e espera o elevador. A porta se abre e Ana dá um passo para dentro. Aperta o botão para prender o elevador e baixa o banquinho para sentar-se. Ajeita a sacola no cantinho. Ajeita também o corpo magro no cantinho, acomodando-se com tranqüilidade em seu lugar cotidiano. Tira o livro debaixo do braço e vai para a página 30, na marcação de ontem.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo...
Chega a moça da imobiliária do terceiro andar. Entra no elevador e a saudação vem do olhar. Ana aperta o botão com o número três. “Sobe”. Fecha-se.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada...
O terceiro andar tem poucas salas ocupadas, mas sempre há um office-boy esperando para subir mais, entregar mais encomendas, falar com o senhor fulano do oitavo. Ana segura o botão: a secretária sai, o garoto entra, agitado com o rádio nos ouvidos. Ana é quieta. “Sobe”. Fecha-se.
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou a olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha um sorriso meio inocente, meio malicioso.
“Oitavo”. A porta do elevador se abre e o boy desce apontando a cabeça para um lado e para outro, procurando a sala, o número, o senhor fulano. Ana segura um pouco o elevador. Deixa a porta se fechar devagarinho, como aprendeu a controlar. Fecha-se.
- Ricardo, abre isso imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida.
Naquele horário das nove e pouco o movimento é lento no prédio. Ana desce até o térreo sozinha.
Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr-do-sol mais bonito do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
Ana lembra-se da filha.. Fica pouco com ela. Passa mais tempo ali, das oito às seis. O elevador está de volta ao térreo. O porteiro olha um folheto de loja. A porta fica aberta. O elevador preso.
Chegam dois rapazes da representação técnica do décimo. Ana espera um pouco. O porteiro grita: “sobe”. Entram mais dois, desconhecidos, para o quinto. O porteiro grita: “sobe”. Entram mais três, os advogados do sétimo. Ana dá uma olhada para fora. Solta o elevador. A porta bate, o elevador é velho, de prédio velho. Faz oito anos que Ana conhece aquilo ali. Começa a subida. Ana conhece bem os comandos. Ana conhece bem cada pessoa daquele prédio. Ana abre e fecha.
Guardando a chave no bolso ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
São muitas pessoas no elevador.
“Quinto”. Abre. Descem os desconhecidos. “Sobe”. Fecha-se.
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado...
Os advogados sempre conversam muito no elevador. Atrapalham a leitura. Mas Ana é quieta. “Sétimo”. Ana tem os controles, faz a porta abrir-se devagar, angustiante.
Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento.
Os advogados descem. “Sobe”. Fecha-se. Passa o nono, chega ao décimo. Abre. Descem os técnicos do décimo. “Desce”. A porta se fecha devagar. O elevador desce devagar. Ana está terminando, ali, sozinha, no cantinho.
Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.
Térreo. Abre-se. Ana vira a página para o próximo conto.
**As passagens em itálico foram retiradas do conto "Venha ver o pôr-do-sol", de Lygia Fagundes Telles
Monday, November 05, 2007
Wednesday, October 31, 2007
Violeta Parra
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
perfecto distingo, lo negro del blanco,
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado el oído, que en todo su ancho,
graba noche y día grillos y canarios,
martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
y la voz tan tierna de mi bien amado.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado el sonido y el abecedario,
con él las palabras que pienso y declaro:
madre, amigo, hermano y luz alumbrando
la ruta del alma del que estoy amando.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos, montañas y llanos,
y la casa tuya, tu calle y tu patio.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano,
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto, los dos materiales que forman mi canto,
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos,
que es mi propio canto.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Friday, October 19, 2007
A reportagem Madeira e Sangue, do jornalista Dauro Veras, com fotos de Sérgio Vignes e arte de Frank Maia, publicada pelo Instituto Observatório Social, recebeu Menção Honrosa no XXIX Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Clique aqui para ler a matéria!
Tuesday, October 09, 2007
Monday, October 01, 2007
Fernando Meirelles está publicando uma espécie de diário de filmagens de "Blindness", seu novo filme, que é baseado em "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Vale conferir os textos do diretor de "Cidade de Deus" e "Jardineiro Fiel". Espie!
Saturday, September 22, 2007
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias,
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
Cecília Meireles
Tuesday, September 18, 2007
http://br.youtube.com/watch?v=9CQno9hKJQM
Saturday, September 15, 2007
Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando,
pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!
[Eduardo Galeano, em O livro dos abraços]
Friday, September 07, 2007
Confira no BLOG do Brasil Plural os curtas brasileiros que vão para a Europa na 10ª edição!
Thursday, September 06, 2007
(4)
Latinhas
(Adriane Canan - Porto Alegre, 2001)
Chicão era conhecido por todos na cidade. Na verdade não por ele mesmo, mas por sua mania de colecionar latinhas. Ao lado de sua casa, no alto do morro, erguiasse um tremendo monte delas. Eram de todos os tipos e formas: redondinhas, chatas, quadradas, retangulares e muitas outras. Quem passava todos os dias lá embaixo na estrada ficava admirado com a altura cada vez maior daquela que parecia uma cordilheira formada por latinhas velhas, enferrujadas pelo tempo.
- É mesmo um louco o Chicão! Passa a vida juntando tranqueiras - diziam todos.
Mas o Chicão nem ligava. Tinha suas razões. Durante o dia saia pelas ruas, batucando com um pequeno pedaço de madeira numa de suas latinhas. Era um jeito de chamar a atenção das donas-de-casa que, já sabedoras que eram da mania do vivente, guardavam os recipientes vazios para presenteá-lo. Passava muito bem por louco o Chicão. Não foram poucas as vezes que tomou banho de mangueira forçado no posto de gasolina, empurrado pelos frentistas. É que o Chicão, na sua loucura pelas latinhas ou marcado pela pobreza do lugar onde vivia, esquecia-se dos banhos.
Era uma lenda o Chicão. Anos e anos se passaram sem que ninguém conseguisse entender sua fascinação pelas latas. Às vezes as pessoas se davam conta também que mesmo do Chicão nada se sabia.
- Cresceu sozinho. Não conheceu a mãe. É meio retardado o coitado.
Então, por aqueles tempos, apareceu na cidade uma mulher. Vinda não se sabe de onde, fez sua primeira aparição na missa do domingo. Bem na hora do sermão, entrou na igreja, passos rápidos em direção ao altar. Começou a falar muito alto, num despejar de palavras quase impossível de entender. Nos bancos, ajoelhadas, as pessoas que acompanhavam a missa observavam estupefatas que aquela mulher, maltrapilha e descabelada, como saída de um redemoinho, tinha feições familiares.
Naquele momento, estrondo ensurdecedor se fez ouvir num raio de milhares de quilômetros. Era como se milhões de sinos estivessem tocando ao mesmo tempo, num mesmo lugar, mas com um volume descomunal. E lá, no alto do morro, o Chicão sorria feliz enterrado até o pescoço em sua enorme montanha de latinhas.
Sunday, September 02, 2007
Thursday, August 30, 2007
Sunday, August 12, 2007
(3)
Tão perto
Sebastiana mora sozinha numa peça alugada. Pequena e velha, cabem poucas coisas ali. Ela tem poucas coisas: uma cama, uma estante, um televisor, um fogão. Também tem um filho internado para tratamento psiquiátrico, bem perto, duas quadras da rua onde mora. Sebastiana é tranqüila e lúcida: o filho ela trata desde bem pequeno!
Pedro não move a perna direita. Vive de favor nos fundos de uma serralheria. O dono permitiu, mas Pedro não pode sair aos sábados e domingos. A serralheria fica fechada, as chaves ficam com o Vilmar, o proprietário.
Sebastiana chega ao hospital antes das sete horas da manhã. Já é conhecida por todos os funcionários e entra devagar, no seu passo velho. O filho tem dias de amuado, não fala com ela, passa assim, quieto. Sebastiana não se importa, admira o filho daquele jeito: é o que Deus deu. O marido, morto há 25 anos, batia nele. Mas ela não, ela sempre teve calma.
Apesar de não movimentar a perna direita, Pedro faz caminhadas todos os dias pela quadra. Empurrando um velho carrinho de supermercado ele segue improvisando os passos. Com pedaços de uma bicicleta velha da serralheria ele achou também uma maneira de fazer exercícios. O médico fala que é bom. Algumas coisas do corpo do Pedro também são da serralheria.
Sebastiana volta para casa pelas seis da tarde. Não tem dormido direito. O homem que aluga a peça ao lado bate nas paredes, arranca pedaços. Ela está procurando outro lugar - o aluguel está alto, cortaram a luz e a água -, mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Encontra a mulher que mora na peça ao lado, com a filha, as duas trabalham com antigüidades.
- E a nossa velhinha? Como vai a nossa velhinha? - diz a mulher. Ela encosta a mão no ombro de Sebastiana e ela dá um sorriso agradecido.
- E os negócios, minha filha? - Sebastiana sempre preocupada, querendo saber das pessoas e de suas vidas.
- Vendendo pouco, vendendo pouco.
As duas entram na casa branca e comprida de janelas marrom.
Pedro empurra o carrinho de volta à serralheria. Está atento ao movimento que acontece lá. Ele sabe que o Vilmar anda metido com drogas. Durante a noite o movimento cresce ainda mais na serralheria. Pedro se tranca no quartinho, fica quieto. Eles vêm aqui, cheiram e ficam loucos. Pedro pensa em mudar de lugar, procurar outra casa. Mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Antes de entrar na serralheira, Pedro ouve uma porta batendo e olha para outro lado da rua.
Tuesday, August 07, 2007

Sunday, August 05, 2007
Pinta os olhos com força. Realça. Verde em todo o contorno. Em cima. Embaixo. O espelho é pequeno mas ela vê tudo. É de manhã cedinho. Os taxistas que vararam a noite ainda conversam alto na frente do Bar Carinhoso. Dois ou três restos de madrugada vagam pelo início do dia. Bêbados.
Agora coloca os brincos. Grandes. Vistosos. Dourados. Dá mais uma olhada no espelho. Uma olhada de cada lado. Bonito! Começam a passar os primeiros ônibus da manhã. Rápidos. Mais um dia começa naquela esquina.
Depois de seis anos morando num abrigo, ela decidiu procurar a rua. Cansou da cara das pessoas, cansou do lugar.
Ela era realmente um doce de pessoa, só queria descobrir outras coisas. Acordou mais cedo um dia, talvez uma segunda-feira, juntou um saco plástico, uma muda de roupa, um estojo de maquiagem que ganhara de uma amiga. E só. Saiu como quem sai de passeio, como quem sai por aí.
No começo ela foi procurada. Mas por pouco tempo. Buscou um lugar fixo, só para dormir. Encontrou uma calçada, uma calçada movimentada, um cantinho perto da porta do Bar Carinhoso, que enchia de gente nas noites de pagode. Ali se sentia acolhida, menos só.
O barulho começa cedo da manhã na esquina. No meio das coisas estendidas na calçada ela procura o vestido preto. Acha. Tira a roupa amassada da noite mal dormida. Coloca o vestido amassado, tirado do saco de suas poucas coisas. O fecho fica aberto. Está quebrado. Passam pela rua dois rapazes que trabalham na padaria.
O sapato é daqueles de plástico. Fáceis de colocar, ainda mais com duas tiras cortadas. Aquelas que apertavam muito. Está pronta. Junta os pertences do chão. O saco preto tem bastante espaço. Como travesseiro ela costuma usar uma blusa velha de lã. Daí é só dobrar e ensacar.
Friday, August 03, 2007
(1)
(Adriane Canan)
Naquele dia banhou-se como nunca havia feito com sabonete novo e depois usou perfume comprado de catálogo dos mais caros para ficar demais cheirosa e preparada. Depois no roupeiro procurou o vestido branco de renda nos braços finos. Colocou-o com tranqüilidade e com olhar profundo no espelho.
Os cabelos ainda estavam por pentear e esperavam por eles os dois prendedores plásticos da cor do vestido que já estava vestido. Faltava o sapato que era talvez velho e de pouco uso.
Eram oito horas da manhã e saiu de casa arrumada. Passeou na cidade pequena com seus olhos guardando cada pedaço. Tinha deixado tudo pronto em casa e as horas passaram lentamente naquele sábado. Seria um dia com final feliz. Voltou já era noite. Foi enterrada junto ao noivo motorista de caminhão que um dia não voltou de viagem.

Wednesday, August 01, 2007



Vi em Porto Alegre, no final de semana, o filme Paris, Je T'Aime. São 21 curtas de diretores de vários países. Histórias curtas e delicadas sobre personagens em Paris. Recomendo!
Wednesday, July 25, 2007

Adriane Canan (Madri, 1º de maio de 2002)
Palacio de los Festivales. Gran Vía. Madri. Espanha. Por volta das oito horas da noite. Eu e uma baiana, que divide o quarto do albergue comigo, estamos na fila do cinema. Assistir a um novo filme de Pedro Almodóvar em Madri é, no mínimo, um bom programa para uma noite de 1º de maio, depois de um dia cheio de manifestações e de dois atentados com bombas na capital espanhola, um dos quais um pleno jogo entre Real Madrid e Barcelona, felizmente sem vítimas. Vamos lá. Bilhetes. Outra fila. Entrega de bilhetes e a surpresa – talvez para nós, saídas da América Latina, acostumadas às salas de cinema brasileiras – o senhor da bilheteria nos diz, apontando com o dedo: “Usted, señorita, por ahí!”. Prontamente me dirijo até a porta indicada. “Usted, señorita, por allá!”. A baiana me olha, desconfiada, mas segue o dedo do espanhol com cara de poucos amigos. Entramos. A sala está quase vazia. Mas eu e a minha amiga somos obrigadas a ver o filme uma em cada canto do cinema: “Los billetes son marcados, señorita!”.
É só um nariz de cera. Vamos ao filme, enfim.
Abrem-se as cortinas de um teatro e a dança de Pina Bausch salta da tela.
Hable com ella, para mim, que não sou lá uma especialista em Pedro Almodóvar (aliás, em coisa nenhuma!), sustenta a paixão e o desejo sempre presentes nos filmes do cineasta. Mas, dessa vez, apesar da presença forte das mulheres, é principalmente dos homens que ele trata. Benigno (Javier Cámara, que também pode ser visto em Lucía y el sexo, de Júlio Meden), é um homem que ama, e muito. Marco (Darío Grandinetti, ator argentino de Rosário, que eu já havia visto num filme de 1996, chamado Despabílate amor, de Eliseu Subiela), está perdido entre passado e presente, não sabe se ama. No meio dos dois estão Alícia (Leonor Watling) e Lydia (Rosário Flores): uma, bailarina, frágil e jovem; a outra, uma toureira, criada para viver no mundo masculino das touradas, mais velha, mas não menos frágil. Eles precisam falar com elas. E o filme nos conduz pelo labirinto de desejo e paixão entre Benigno e Alicia, Marco e Lydia, Benigno e Marco...A solidão, a desolação da loucura de uma paixão, o silêncio do corpo, o coma e a morte estão presentes. Sempre.
Num roteiro que me pareceu meticuloso e sensível, Hable con ella torna-se, na minha opinião, mais tocante que Todo sobre mi madre. Talvez, e me perdoem, por parecer mais real, mais possivelmente cotidiano, levando-se em conta, claro, a realidade espanhola e suas viscerais relações com os touros e com as pessoas. Também menos provocante, se esse é o termo, que filmes anteriores do cineasta. Mas não, espere, há também, em Hable con ella, agressões explícitas, carnais e anti-moralistas.
Também, e com muito destaque, aparece a participação de ilustres conhecidos. Está na tela Geraldine Chaplin, filha mais velha de Charles Chaplin. Para nós, brasileiros – e fiquei com vontade de gritar no meio do cinema: “Ei, eu sou brasileira!” - , há um “certo” amor pelo Brasil que Almodóvar declara abertamente. Duas seqüências imaginadas pelo cineasta têm as vozes de Caetano Veloso e Elis Regina. Caetano aparece em carne e osso (ou não!), dentro de um sonho do personagem Marco, numa espécie de sarau, cantando “Cururucucu Paloma”. Eu diria, uma “mega” participação do baiano. Elis solta sua voz numa declaração de amor de Almodóvar à tauromaquia com “Por toda minha vida”. Está lá, também, e para nosso orgulho, uma bela citação sobre o maestro Tom Jobim.
Aqui estamos, em Madri, dentro de um filme de Almodóvar. Pina Bausch volta e emociona mais. Agora voltamos para o albergue. Rindo da situação da entrada. Pensando na morte e na vida. Em cada imagem da Espanha e de Almodóvar. Com alguma saudade do Brasil.
Friday, July 20, 2007

Tuesday, July 10, 2007
Yo quiero luz de luna
Para mi noche triste
Para soñar divina
La ilusión que me trajiste
Para sentirte mía, mía tú
Como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Si ya no vuelves nunca
Provincianita mía
A mi senda querida
Que está triste y está fría
En vez de en mi almohada
Lloraré sobre mi tumba
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Yo siento tus amarras
Como garfios, como garras
Que me ahogan en la playa
De la farra y el dolor
Y siento tus cadenas a rastras
En mi noche callada
Que sea plenilunada
Y azul como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna.
Saturday, July 07, 2007
Thursday, July 05, 2007

25 Watts, nas palavras de Rebella: "25 Watts é um filme de muito baixo orçamento, que rodamos em 16mm. De certa forma, é um filme autobiográfico, que narra um dia na vida de três amigos. 25 Watts não tem exatamente uma trama, mas sim várias cenas em planos longos, com muito humor e também um pouco de melancolia e saudade. Levamos este filme ao festival de Roterdã, foi nossa primeira vez num festival. Foi um grande sucesso, fomos premiados em Havana e muitos outros festivais". Clique aqui e leia íntegra da entrevista.
Wednesday, July 04, 2007
Minha amiga Jorane Castro, lá de Belém, está divulgando seu curta-metragem Quando a chuva chegar. Lemos juntas esse roteiro, em 2003, na beira da piscina da Escola de Cinema de Cuba!!
A moça é das profis. Já tem no currículo o curta Mulheres Choradeiras, que foi exibido em Cannes, e o documentário Invisíveis Prazeres Cotidianos, sobre blogueiros da capital paraense. Quem quiser curtir uma prévia do novo trabalho da Jô pode acessar no youtube:
www.youtube.com/watch?v=eqqPCWovWSo
Entre setembro e outubro de 2003, estive em San Antonio de Los Baños, Cuba, na Escuela Internacional de Cine y Televisión, a EICTV. Tempo maravilhoso, na escola fundada por caras como Gabriel García Marquez e Fernando Birri. Fiz grandes amigos de vários lugares do mundo. Coisas surreais aconteceram! Aprendi muito de roteiro com pessoas muito, muito especiais. Pra matar a saudade, publico abaixo algumas fotos que fiz em La Habana. As fotos saíram também no Papel Jornal, do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, em 2005.



Monday, June 25, 2007

Friday, June 22, 2007
Adriane Canan (08/11/2006)
Me lembro bem: as plantinhas ficavam bem do ladinho da nossa casa. Eram pequenas. E não eram muitas. Havia uma época do ano em que, ao sair de casa para ir pra escola, bem cedinho da manhã, eu tinha a impressão de que elas falavam comigo. Eram tomateiros. Mas não eram grandes tomateiros. Eram pequeninos. De tomates pequeninos. Umas bolinhas verdes que iam crescendo pouquinho por dia. Pouquinho por dia, pouquinho por dia. Que nem eu, que era criança de interior. Crescia pouquinho por dia. Daí chegava um dia que os tomatinhos ficavam vermelhos. E o cheiro suave deles tomava conta do caminho para a escola. Eu sentia de longe. Era bom. Daí eu chegava em casa, largava as coisas e ia colher os tomatinhos. A mãe mandava lavar. E eu comia devagar, com sal, um tantinho de sal. Demorava. Adorava o gosto daqueles tomatinhos.Depois esqueci dos tomatinhos por longo tempo. O tempo do esquecimento.Daí hoje pensei neles e senti seu cheiro forte. Olhei minhas mãos e lá estavam eles, madurinhos, vermelhos, prontos para serem lavados e comidos. Eu recém chegada da aula da terceira série. A mãe chamando para o almoço. Cheirei minhas mãos com paciência e apaguei os anos de esquecimento.
Publicado antes em: Remix Narrativo
Monday, June 18, 2007
Saturday, June 16, 2007


Carlos Sorín me faz sorrir e ter esperança, sempre. Que maneira de contar uma história! Que maestria em dar aos personagens a simplicidade e a complexidade toda da vida ao mesmo tempo. E que atores! E que 'não-atores', pois que gosta de trabalhar com 'pessoas comuns'.
Com Histórias Mínimas, filme que vi em Porto Alegre, há alguns anos, me senti perdida por muito tempo (ainda me sinto, na verdade). Daí ele me pegou de vez com Bombón, el perro.
Friday, June 15, 2007

Na foto e nas palavras de Sílvia Pavesi: "montaña de colores revela todos os tons dos desertos bolivianos".
Deu vontade de viajar pela América Latina? Então pegue carona com os jornalistas Eumano Silva e Sílvia Pavesi. A foto aí de cima já é um grande convite! Visite o blog Fotos&Fronteiras e boa viagem!
(Jorge Drexler)
Tu beso se hizo calor,
luego el calor movimiento,
luego gota de sudor,
que se hizo vapor, luego viento
que en un ricón de La Rioja
movió el aspa de un molino
mientras se pisaba el vino
que bebió tu boca roja.
Tu boca roja en la mia,
la copa que gira en mi mano,
y mientras el vino caía
supe que de algún lejano
ricón de otra galáxia,
el amor que me darías,
transformado, volveria
un día a darte las gracias.
Cada uno dá, lo que recibe / y luego recibe lo que dá,/ nada és más simple,/ no hay otra norma:/ nada se pierde,/ todo se transforma.
El vino que pagué yo,
con aquel euro italiano
que había estado en un vagón
antes de estar en mi mano,
y antes de eso en Torino,
y antes de Torino, en Prato, onde hicieron mi zapato
sobre el que caería el vino.
Zapato que en unas horas, buscaré bajo tu cama
con las luces de la aurora,
junto a tus sandalias planas
que compraste aquella vez
en Salvador de Bahia,
donde a otro diste el amor
que hoy yo te devolvería...
Cada uno dá lo que recibe / y luego recibe lo que dá, / nada es más simple,/ no hay otra norma: / nada se pierde, / todo se transforma...
Wednesday, May 30, 2007
Tuesday, May 22, 2007
Thursday, May 10, 2007
Das coisas que ficam para sempre
Publico, abaixo, um artigo da Valci Zuculoto e do Eduardo Meditsch, meus queridos professores do Curso de Jornalismo da UFSC. Fui uma das primeiras bolsistas do Universidade Aberta, lá no início dos anos 90. Foi uma experiência linda e importante para toda a minha vida profissional até agora. Lamento o fim do projeto. Lamento muito. Todos os que fizeram parte desta história, com certeza, sabem que o UA é daquelas coisas que ficam para sempre em nossos corações e mentes. Sementes foram plantadas, queridos professores! A luta continua!
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Últimas notícias do Unaberta
Valci Zuculoto e Eduardo Meditsch
Professores do Curso de Jornalismo da UFSC
Na Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão de 2007, a comunidade universitária da UFSC vai notar que perdeu um dos seus principais órgãos de divulgação. Em acontecimentos como a explosão ocorrida há dias no RU, vai depender só dos boatos para saber o que houve. E na eleição para Reitor do segundo semestre, vai sentir a falta de uma fonte de informação que seja plural e independente. O Projeto Universidade Aberta do Curso de Jornalismo deixou de existir em março, depois de mais de 15 anos de produção de noticiário diário sobre a UFSC. Já não se pode dizer com certeza que “todo dia a UFSC é notícia”, como no slogan do projeto, e o que se passa no Campus da Trindade fica menos conhecido, transparente e explicado. Os jornalistas de Santa Catarina perderam também a sua mais confiável fonte de informações sobre a Universidade.
Fundado em 1991, com um programa diário sobre a UFSC produzido pelos alunos de Jornalismo na extinta Rádio União FM, o projeto conquistou credibilidade dentro e fora do campus e se expandiu para outras mídias. Manteve programas diários em várias rádios comerciais, mais tarde também na TV, conquistou páginas periódicas em jornais de Florianópolis e em 1997 inaugurou o site www.unaberta.ufsc.br, o primeiro jornal online de todo o estado de Santa Catarina e também a primeira página de internet com notícias diárias de toda a universidade brasileira. Desde então, durante as greves na universidade, o Unaberta foi a única fonte de informação atualizada diariamente sobre os rumos do movimento e as negociações em Brasília, para onde várias vezes enviou alunos-repórteres, e conquistou com isso um público nacional. O site recebeu mais de sete milhões de acessos reais em sua existência, não baixando, nos últimos tempos de vida, dos cinco mil acessos diários.
Em 1998, por iniciativa do Pró-Reitor Faruk Nome, a Reitoria transferiu ao Unaberta os recursos e a responsabilidade pela divulgação do Vestibular da UFSC, antes confiados a uma empresa privada. As inscrições no vestibular aumentaram nos cinco anos seguintes, e a experiência foi apontada pelo MEC às demais Ifes como exemplo de como reduzir custos e ganhar eficiência na organização do concurso. O Projeto passou a produzir toda a campanha publicitária do vestibular (cartaz, folder, anúncios para jornal, revista, rádio, TV e internet), administrar a sua veiculação, elaborar o site do concurso, o Guia do Vestibulando, o Guia dos Cursos e a revista institucional da Universidade (UFSC 2000), além de outros serviços de comunicação institucional, requisitados por vários setores.
Com os recursos recebidos, o Unaberta sustentava toda essa produção, inteiramente realizada por alunos do Jornalismo, com apoio de servidores e supervisão de professores. E, mais do que isso, garantia o financiamento de seu objetivo principal, a produção diária de notícias independentes sobre a Universidade para a mídia própria e externa. No auge, o Projeto de Extensão chegou a manter simultaneamente seis professores, três servidores e trinta alunos como bolsistas. Atuando como agência de notícias e produtora multimídia, passou a colecionar prêmios nacionais e a ser citado como referência laboratorial no ensino de jornalismo. Enquanto estágio interno, tornou-se um dos alicerces do projeto pedagógico que colocou o curso da UFSC por vários anos na posição de “o melhor do país”, como aparecia no Guia do Estudante da Editora Abril.
Esvaziamento
A nomeação de um professor do curso, participante do Projeto Universidade Aberta, para a direção da Agência de Comunicação da Universidade, na última gestão do reitor Rodolfo Pinto da Luz, criou a expectativa de um maior aproveitamento da competência do Departamento de Jornalismo para gerar a elaboração do Plano Estratégico de Comunicação da UFSC no âmbito da Agecom. Mas o que se seguiu foi o inverso: nos anos seguintes, o Unaberta começou a perder espaço na comunicação da universidade e as verbas necessárias para funcionar. Na gestão do professor Lúcio Botelho, prosseguiu o esvaziamento do Projeto Universidade Aberta: o Curso de Jornalismo foi definitivamente excluído da comunicação do vestibular, perdeu as bolsas de extensão dos professores e funcionários, depois também as verbas de contratação de serviços e de material de consumo, mantendo apenas as bolsas dos alunos, já reduzidas pela metade em relação a oito anos antes. O projeto só não morreu no início de 2006 pela resistência teimosa de sua última coordenadora, que o sustentou, apoiada apenas por um punhado de alunos, até o final do último semestre letivo, quando se afastou da UFSC para cursar doutorado.
Faça-se justiça, no entanto, ao atual Reitor: ao tomar conhecimento da paralisação do projeto, o professor Lúcio Botelho disponibilizou-se a buscar recursos para viabilizar a continuidade da existência do Universidade Aberta, concordando que a UFSC precisava de um veículo independente da sua comunicação institucional, conforme o UA sempre se propôs a ser e vinha atuando. Na verdade, foram o Departamento e o Curso de Jornalismo que já não se interessaram por dar continuidade ao Unaberta.
Divisão Interna
Para mais de 500 jornalistas diplomados na UFSC, que passaram pelo Unaberta nestes últimos quinze anos e meio, o projeto foi um dos alicerces da qualidade de sua formação. Mas os atuais responsáveis pelo Departamento e o Curso – direção e corpo docente - não pensam da mesma forma que seus ex-alunos. Assim, na última reunião do Colegiado do Departamento, realizada no dia 18 de abril, o projeto foi desqualificado de várias formas e tido como perfeitamente dispensável. Diante do impedimento dos seus últimos coordenadores – uma afastada para doutorado, outro assumindo a coordenação da implantação do mestrado - nenhum outro professor se interessou em dar continuidade ao projeto, e a experiência do site foi considerada encerrada.
Envolvidos em mais uma árdua disputa interna, que é recorrente na história do Departamento e do Curso, não parece importar tanto aos vários grupos de professores edificar o institucional coletivo. É neste contexto que se opta por extinguir o Unaberta, mesmo sem nada ainda de concreto delineado para colocar no lugar. E o certo é que todas tentativas anteriores de substituição não conseguiram se consolidar.
A maioria silenciosa do Departamento, envolvida em seus projetos e afazeres, que são muitos, e atordoada pelas disputas internas, desistiu de continuar defendendo o projeto. Os atuais alunos, assustados e temerosos, optaram por se calar durante todo o desenrolar do episódio. E só agora, depois dele consumado, dão-se conta de que foram os verdadeiros perdedores.
Se a disputa interna não inviabilizar mais outras coisas, o Departamento de Jornalismo da UFSC continuará a contar com excelentes professores em aula, projetos de pesquisa de ponta e uma infra-estrutura tecnológica de fazer inveja. Neste momento, o Departamento dá, sem dúvida, um grande salto, com a criação do primeiro Mestrado especializado em Jornalismo no país, que vem sendo muito saudado pela comunidade acadêmica do campo e também pela área profissional .
Mas a morte do Projeto Universidade Aberta marca o fim de uma era na formação profissional oferecida na instituição. A convivência de professores e alunos em torno de uma prática com P maiúsculo, feita real dentro do curso, não mais será a mesma. A emoção da cobertura em tempo real dos acontecimentos da Universidade, do enfrentamento dos dilemas éticos, dos desafios teóricos e técnicos da profissão, no testemunho diário de uma paixão pelo ofício, isso pode ter ficado para a história como o período romântico, ou melhor, utópico, do Curso de Jornalismo da UFSC. Ao alcance dos signatários desta, fundadores e ex-coordenadores do projeto, fica a vontade de manter viva uma pequena semente deste espírito na Rádio Ponto UFSC (www.radio.ufsc.br), projeto do Laboratório de Radiojornalismo do Curso, onde, aliás, tudo começou.
O texto foi copiado do site: http://www.sjsc.org.br/ (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SC)
Thursday, May 03, 2007
Saturday, April 21, 2007

Série Mergulho no Palco
Dança de detalhes que não se desvendam
Bailarinos e público ocupando o mesmo espaço: o palco do Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura, em Florianópolis. O espetáculo “Segredos Dançantes Contra Brutalidade Surda” estréia nos dias 1º e 2 de maio, às 20 horas, e une o coreógrafo Alejandro Ahmed, do Grupo Cena 11, os bailarinos Anderson Gonçalves, Phelipe Janning e Volmir Cordeiro, além de Hedra Rockenbach compondo a trilha sonora. É o quarto espetáculo apresentado pela Série Mergulho no Palco.
“A proposta foi reunir profissionais da dança, que trabalham de forma isolada ou em grupos distintos, num projeto comum de desenvolvimento de novas pesquisas e possibilidades em dança contemporânea”, conta Phelipe Janning, bailarino e produtor. No caso do coreógrafo Alejandro Ahmed, por exemplo, é o primeiro trabalho de longa duração fora do Cena 11, grupo pelo qual já é reconhecido internacionalmente. Foram dez meses de ensaios e aulas, diariamente, a partir da criação do núcleo formado pelos profissionais envolvidos.
Sobre “Segredos”
“Um segredo tece sua força na qualidade de informação que guarda, e qualidade aqui se refere à propriedade. O segredo só sobrevive alimentado por aquilo que não revela. Ele não esconde, ele guarda”. Nas palavras do coreógrafo Alejandro Ahmed pode-se entender a essência do espetáculo. De acordo com ele, “Segredos dançantes contra brutalidade surda” tem o propósito de investigar uma dança do “detalhe”, confeccionada em ações e movimentos que são desenvolvidos para não serem desvendados naquilo que poderia ser sua receita. “Esta investigação coreográfica propõe em cena um sistema anti-vaidade construído com dança, música, Volmir 20, Phelipe 28 e Anderson 42”, aponta Ahmed. O projeto foi desenvolvido com recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Santa Catarina – FUNCULTURAL e do Prêmio Klauss Vianna, através da Funarte/Ministério da Cultura. Conta também com patrocínio da Petrobras e apoio da Canguru Embalagens.
Segredos Dançantes Contra Brutalidade Surda
Ficha técnica:
Alejandro Ahmed – coreografia e direção
Anderson Gonçalves - bailarino
Hedra Rockenbach - trilha sonora
Volmir Cordeiro - bailarino
Contato MERGULHO NO PALCO:
Produção: Andreza Martins (8802 3722) e Phelipe Janning (9981-6077)
Assessoria de imprensa: Adriane Canan
adrianecanan@yahoo.com.br
(49) 9917-0972
Wednesday, April 04, 2007
Resistência: Carta Maior permanece na luta por uma comunicação mais plural e democrática!
Saturday, March 24, 2007

Wednesday, March 21, 2007

Tuesday, March 20, 2007
(2)
(Adriane Canan - Porto Alegre - 20.03.03 - dia do início da Guerra no Iraque)
Talvez amanhã aconteça de pararmos na rua para amarrar os cadarços
Ou quem sabe chova e o guarda-chuva esteja em casa
Agora mesmo Amanda me pediu pra ver Alice no país das Maravilhas
Eu resisti: queria ver as notícias de uma guerra que já me contam há meses
Da qual já se sabe o número de possíveis mortos e vivos
E de mortos-vivos
Mundo das Sete Maravilhas
Amanda está vendo Alice, em seguida deve dormir
Amanhã talvez a guerra já estará em seu primeiro dia
Amanda vai pra escola cedo
Espero não esquecer o guarda-chuva, nem cair por conta dos sapatos.
Friday, March 16, 2007
(1)
Sobre Paris (duas ou três considerações, de rua ou de sonho)
Adriane Canan (abril de 2002 - Sur-Marne)
Os pés em Paris/Negros como o breu da noite/ Os pés em Paris/ Panos coloridos como um sábado/ Os pés em Paris/ Negros olhos transfigurados num ocidente antropófago/O menino é romeno, chora na mão pelo dinheiro que pede/ Chora a mãe no ventre pelos filhos que carrega/ Choram os pés em Paris/ (Barulho do metrô) /Silêncio nas ruas sepultadas de história/ O peso da cultura nos olhos absortos do intelectual/ E a bicha velha que importa o corpo-menino-asiático por pão e sexo/ O rio gelado e os turistas medíocres que posam de ricos ao som de Edith Piaf/ Os grandes pintores pendurados nas paredes do Louvre/ (Barulho de passos no corredor)/ Arte vale muito?/ A Torre Eiffel e os souvenirs de pobre/ A Place Vendome e a morte da nobre-plebéia-donzela-prostituta que trepava com o milionário egípcio/ Armani,Mont Blanc/ O homem aluga o menino para pedir esmolas/Os pés em Paris/ (Sonho com o Pablo)/ As escadarias de Nogent-Sur-Marne e a tranquilidade na casa da Irina/ As putas-travestis-argelinas do Kadet/ Fotos pra ficar na festa/Os olhos azuis da Lara percorrem a escola de artes/ E a alemã ex-comunista foi para os Estados Unidos do World Trade Center/ (Penso na Amanda)/ O português arrota arrogância e come seus próprios eus/ As baianas são negras como os negros da Estação Les Halles/ Os andinos não recebem palmas/ Os judeus fazem doces no Mares e jogam bombas nos palestinos/ Enquanto o Mc Donalds de Paris tem cabelo no Big Mac/ A França vota numa eleição silenciosa como a morte/Sem pombos/ Uma capa de chuva verde-limão e um dia livre para compras em Paris/ Pausa.
Sunday, March 04, 2007
Thursday, February 22, 2007
Thursday, January 25, 2007

Hoje me deu saudades imensas de um filme lindo:
Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin, Win Wenders, 1987).