(3)
Tão perto
(Adriane Canan - Porto Alegre, 2001)
Sebastiana mora sozinha numa peça alugada. Pequena e velha, cabem poucas coisas ali. Ela tem poucas coisas: uma cama, uma estante, um televisor, um fogão. Também tem um filho internado para tratamento psiquiátrico, bem perto, duas quadras da rua onde mora. Sebastiana é tranqüila e lúcida: o filho ela trata desde bem pequeno!
Sebastiana mora sozinha numa peça alugada. Pequena e velha, cabem poucas coisas ali. Ela tem poucas coisas: uma cama, uma estante, um televisor, um fogão. Também tem um filho internado para tratamento psiquiátrico, bem perto, duas quadras da rua onde mora. Sebastiana é tranqüila e lúcida: o filho ela trata desde bem pequeno!
Ela sai todos os dias cedo.
Pedro não move a perna direita. Vive de favor nos fundos de uma serralheria. O dono permitiu, mas Pedro não pode sair aos sábados e domingos. A serralheria fica fechada, as chaves ficam com o Vilmar, o proprietário.
Sebastiana chega ao hospital antes das sete horas da manhã. Já é conhecida por todos os funcionários e entra devagar, no seu passo velho. O filho tem dias de amuado, não fala com ela, passa assim, quieto. Sebastiana não se importa, admira o filho daquele jeito: é o que Deus deu. O marido, morto há 25 anos, batia nele. Mas ela não, ela sempre teve calma.
Apesar de não movimentar a perna direita, Pedro faz caminhadas todos os dias pela quadra. Empurrando um velho carrinho de supermercado ele segue improvisando os passos. Com pedaços de uma bicicleta velha da serralheria ele achou também uma maneira de fazer exercícios. O médico fala que é bom. Algumas coisas do corpo do Pedro também são da serralheria.
Sebastiana volta para casa pelas seis da tarde. Não tem dormido direito. O homem que aluga a peça ao lado bate nas paredes, arranca pedaços. Ela está procurando outro lugar - o aluguel está alto, cortaram a luz e a água -, mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Encontra a mulher que mora na peça ao lado, com a filha, as duas trabalham com antigüidades.
- E a nossa velhinha? Como vai a nossa velhinha? - diz a mulher. Ela encosta a mão no ombro de Sebastiana e ela dá um sorriso agradecido.
- E os negócios, minha filha? - Sebastiana sempre preocupada, querendo saber das pessoas e de suas vidas.
- Vendendo pouco, vendendo pouco.
As duas entram na casa branca e comprida de janelas marrom.
Pedro empurra o carrinho de volta à serralheria. Está atento ao movimento que acontece lá. Ele sabe que o Vilmar anda metido com drogas. Durante a noite o movimento cresce ainda mais na serralheria. Pedro se tranca no quartinho, fica quieto. Eles vêm aqui, cheiram e ficam loucos. Pedro pensa em mudar de lugar, procurar outra casa. Mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Antes de entrar na serralheira, Pedro ouve uma porta batendo e olha para outro lado da rua.
Pedro não move a perna direita. Vive de favor nos fundos de uma serralheria. O dono permitiu, mas Pedro não pode sair aos sábados e domingos. A serralheria fica fechada, as chaves ficam com o Vilmar, o proprietário.
Sebastiana chega ao hospital antes das sete horas da manhã. Já é conhecida por todos os funcionários e entra devagar, no seu passo velho. O filho tem dias de amuado, não fala com ela, passa assim, quieto. Sebastiana não se importa, admira o filho daquele jeito: é o que Deus deu. O marido, morto há 25 anos, batia nele. Mas ela não, ela sempre teve calma.
Apesar de não movimentar a perna direita, Pedro faz caminhadas todos os dias pela quadra. Empurrando um velho carrinho de supermercado ele segue improvisando os passos. Com pedaços de uma bicicleta velha da serralheria ele achou também uma maneira de fazer exercícios. O médico fala que é bom. Algumas coisas do corpo do Pedro também são da serralheria.
Sebastiana volta para casa pelas seis da tarde. Não tem dormido direito. O homem que aluga a peça ao lado bate nas paredes, arranca pedaços. Ela está procurando outro lugar - o aluguel está alto, cortaram a luz e a água -, mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Encontra a mulher que mora na peça ao lado, com a filha, as duas trabalham com antigüidades.
- E a nossa velhinha? Como vai a nossa velhinha? - diz a mulher. Ela encosta a mão no ombro de Sebastiana e ela dá um sorriso agradecido.
- E os negócios, minha filha? - Sebastiana sempre preocupada, querendo saber das pessoas e de suas vidas.
- Vendendo pouco, vendendo pouco.
As duas entram na casa branca e comprida de janelas marrom.
Pedro empurra o carrinho de volta à serralheria. Está atento ao movimento que acontece lá. Ele sabe que o Vilmar anda metido com drogas. Durante a noite o movimento cresce ainda mais na serralheria. Pedro se tranca no quartinho, fica quieto. Eles vêm aqui, cheiram e ficam loucos. Pedro pensa em mudar de lugar, procurar outra casa. Mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Antes de entrar na serralheira, Pedro ouve uma porta batendo e olha para outro lado da rua.
É uma casa branca e comprida de janelas marrom.
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