Thursday, May 10, 2007

Das coisas que ficam para sempre

Publico, abaixo, um artigo da Valci Zuculoto e do Eduardo Meditsch, meus queridos professores do Curso de Jornalismo da UFSC. Fui uma das primeiras bolsistas do Universidade Aberta, lá no início dos anos 90. Foi uma experiência linda e importante para toda a minha vida profissional até agora. Lamento o fim do projeto. Lamento muito. Todos os que fizeram parte desta história, com certeza, sabem que o UA é daquelas coisas que ficam para sempre em nossos corações e mentes. Sementes foram plantadas, queridos professores! A luta continua!

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Últimas notícias do Unaberta

Valci Zuculoto e Eduardo Meditsch
Professores do Curso de Jornalismo da UFSC

Na Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão de 2007, a comunidade universitária da UFSC vai notar que perdeu um dos seus principais órgãos de divulgação. Em acontecimentos como a explosão ocorrida há dias no RU, vai depender só dos boatos para saber o que houve. E na eleição para Reitor do segundo semestre, vai sentir a falta de uma fonte de informação que seja plural e independente. O Projeto Universidade Aberta do Curso de Jornalismo deixou de existir em março, depois de mais de 15 anos de produção de noticiário diário sobre a UFSC. Já não se pode dizer com certeza que “todo dia a UFSC é notícia”, como no slogan do projeto, e o que se passa no Campus da Trindade fica menos conhecido, transparente e explicado. Os jornalistas de Santa Catarina perderam também a sua mais confiável fonte de informações sobre a Universidade.

Fundado em 1991, com um programa diário sobre a UFSC produzido pelos alunos de Jornalismo na extinta Rádio União FM, o projeto conquistou credibilidade dentro e fora do campus e se expandiu para outras mídias. Manteve programas diários em várias rádios comerciais, mais tarde também na TV, conquistou páginas periódicas em jornais de Florianópolis e em 1997 inaugurou o site www.unaberta.ufsc.br, o primeiro jornal online de todo o estado de Santa Catarina e também a primeira página de internet com notícias diárias de toda a universidade brasileira. Desde então, durante as greves na universidade, o Unaberta foi a única fonte de informação atualizada diariamente sobre os rumos do movimento e as negociações em Brasília, para onde várias vezes enviou alunos-repórteres, e conquistou com isso um público nacional. O site recebeu mais de sete milhões de acessos reais em sua existência, não baixando, nos últimos tempos de vida, dos cinco mil acessos diários.

Em 1998, por iniciativa do Pró-Reitor Faruk Nome, a Reitoria transferiu ao Unaberta os recursos e a responsabilidade pela divulgação do Vestibular da UFSC, antes confiados a uma empresa privada. As inscrições no vestibular aumentaram nos cinco anos seguintes, e a experiência foi apontada pelo MEC às demais Ifes como exemplo de como reduzir custos e ganhar eficiência na organização do concurso. O Projeto passou a produzir toda a campanha publicitária do vestibular (cartaz, folder, anúncios para jornal, revista, rádio, TV e internet), administrar a sua veiculação, elaborar o site do concurso, o Guia do Vestibulando, o Guia dos Cursos e a revista institucional da Universidade (UFSC 2000), além de outros serviços de comunicação institucional, requisitados por vários setores.

Com os recursos recebidos, o Unaberta sustentava toda essa produção, inteiramente realizada por alunos do Jornalismo, com apoio de servidores e supervisão de professores. E, mais do que isso, garantia o financiamento de seu objetivo principal, a produção diária de notícias independentes sobre a Universidade para a mídia própria e externa. No auge, o Projeto de Extensão chegou a manter simultaneamente seis professores, três servidores e trinta alunos como bolsistas. Atuando como agência de notícias e produtora multimídia, passou a colecionar prêmios nacionais e a ser citado como referência laboratorial no ensino de jornalismo. Enquanto estágio interno, tornou-se um dos alicerces do projeto pedagógico que colocou o curso da UFSC por vários anos na posição de “o melhor do país”, como aparecia no Guia do Estudante da Editora Abril.

Esvaziamento

A nomeação de um professor do curso, participante do Projeto Universidade Aberta, para a direção da Agência de Comunicação da Universidade, na última gestão do reitor Rodolfo Pinto da Luz, criou a expectativa de um maior aproveitamento da competência do Departamento de Jornalismo para gerar a elaboração do Plano Estratégico de Comunicação da UFSC no âmbito da Agecom. Mas o que se seguiu foi o inverso: nos anos seguintes, o Unaberta começou a perder espaço na comunicação da universidade e as verbas necessárias para funcionar. Na gestão do professor Lúcio Botelho, prosseguiu o esvaziamento do Projeto Universidade Aberta: o Curso de Jornalismo foi definitivamente excluído da comunicação do vestibular, perdeu as bolsas de extensão dos professores e funcionários, depois também as verbas de contratação de serviços e de material de consumo, mantendo apenas as bolsas dos alunos, já reduzidas pela metade em relação a oito anos antes. O projeto só não morreu no início de 2006 pela resistência teimosa de sua última coordenadora, que o sustentou, apoiada apenas por um punhado de alunos, até o final do último semestre letivo, quando se afastou da UFSC para cursar doutorado.

Faça-se justiça, no entanto, ao atual Reitor: ao tomar conhecimento da paralisação do projeto, o professor Lúcio Botelho disponibilizou-se a buscar recursos para viabilizar a continuidade da existência do Universidade Aberta, concordando que a UFSC precisava de um veículo independente da sua comunicação institucional, conforme o UA sempre se propôs a ser e vinha atuando. Na verdade, foram o Departamento e o Curso de Jornalismo que já não se interessaram por dar continuidade ao Unaberta.

Divisão Interna

Para mais de 500 jornalistas diplomados na UFSC, que passaram pelo Unaberta nestes últimos quinze anos e meio, o projeto foi um dos alicerces da qualidade de sua formação. Mas os atuais responsáveis pelo Departamento e o Curso – direção e corpo docente - não pensam da mesma forma que seus ex-alunos. Assim, na última reunião do Colegiado do Departamento, realizada no dia 18 de abril, o projeto foi desqualificado de várias formas e tido como perfeitamente dispensável. Diante do impedimento dos seus últimos coordenadores – uma afastada para doutorado, outro assumindo a coordenação da implantação do mestrado - nenhum outro professor se interessou em dar continuidade ao projeto, e a experiência do site foi considerada encerrada.

Envolvidos em mais uma árdua disputa interna, que é recorrente na história do Departamento e do Curso, não parece importar tanto aos vários grupos de professores edificar o institucional coletivo. É neste contexto que se opta por extinguir o Unaberta, mesmo sem nada ainda de concreto delineado para colocar no lugar. E o certo é que todas tentativas anteriores de substituição não conseguiram se consolidar.
A maioria silenciosa do Departamento, envolvida em seus projetos e afazeres, que são muitos, e atordoada pelas disputas internas, desistiu de continuar defendendo o projeto. Os atuais alunos, assustados e temerosos, optaram por se calar durante todo o desenrolar do episódio. E só agora, depois dele consumado, dão-se conta de que foram os verdadeiros perdedores.

Se a disputa interna não inviabilizar mais outras coisas, o Departamento de Jornalismo da UFSC continuará a contar com excelentes professores em aula, projetos de pesquisa de ponta e uma infra-estrutura tecnológica de fazer inveja. Neste momento, o Departamento dá, sem dúvida, um grande salto, com a criação do primeiro Mestrado especializado em Jornalismo no país, que vem sendo muito saudado pela comunidade acadêmica do campo e também pela área profissional .

Mas a morte do Projeto Universidade Aberta marca o fim de uma era na formação profissional oferecida na instituição. A convivência de professores e alunos em torno de uma prática com P maiúsculo, feita real dentro do curso, não mais será a mesma. A emoção da cobertura em tempo real dos acontecimentos da Universidade, do enfrentamento dos dilemas éticos, dos desafios teóricos e técnicos da profissão, no testemunho diário de uma paixão pelo ofício, isso pode ter ficado para a história como o período romântico, ou melhor, utópico, do Curso de Jornalismo da UFSC. Ao alcance dos signatários desta, fundadores e ex-coordenadores do projeto, fica a vontade de manter viva uma pequena semente deste espírito na Rádio Ponto UFSC (www.radio.ufsc.br), projeto do Laboratório de Radiojornalismo do Curso, onde, aliás, tudo começou.

O texto foi copiado do site: http://www.sjsc.org.br/ (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SC)

1 comment:

Redação Plano E said...

Caramba. Vou reproduzir também . Uma pena.