Daquilo que vi ontem no centro de Florianópolis e daquilo que não vi ontem na RBS
Quinta-feira, 12 de março.
16 horas. Acompanho minha mãe, professora aposentada, na Assembleia do Sinte, no Centro Sul, em Florianópolis. Ela viajou 12 horas de ônibus, com outros colegas do Oeste catarinense, para participar da discussão do magistério estadual. Ponto principal: o governo do Estado não quer pagar o piso nacional, que agora é lei.
17 horas. Caminho em direção ao Ticen, terminal de ônibus do centro da Capital, acompanhada de dois amigos. Na calçada central da avenida que dá acesso ao terminal, o espaço está tomado pela polícia militar: tropa de choque, cavalaria, o escambau. A população quase não tem espaço para caminhar na calçada. Está garoando. Nos espaços cobertos fora do terminal, muitos, eu disse MUITOS, policiais se protegem da chuva. Eles estão por toda parte. É quase uma parada militar. Os estudantes preparavam um protesto contra o absurdo do transporte coletivo da cidade.
17h10. Começa a chover forte. Entro no terminal A. Um rapaz, agitado, fala no celular: - Cara, é muito PM! E eles vieram pra bater! Meu ímpeto é de ficar, acompanhar tudo. Mas preciso estar em casa logo, minha filha vai chegar da escola.
17h15: Entro no ônibus Volta ao Morro Pantanal Saída Norte. Escolho esta linha para passar, propositadamente, pelo movimento dos PMs. O ônibus passa pelo Centro Sul: os professores estão aglomerados na saída. Chove forte. Havia na programação uma manifestação contra a criminalização dos movimentos sociais, reunindo várias categorias.
17h40: Chego em casa, na Trindade. Estou muito preocupada com minha mãe, que ficou na muvuca, no Centro. Ela retornaria ao Oeste logo após a manifestação, no ônibus fretado pelos professores. Abro o Diário.com. Nenhuma linha! O centro da cidade está tomado de policiais militares. A secretaria de segurança do Estado colocou o efetivo inteiro da Capital na rua. Mas não é notícia, parece.
19 horas: Nada na Internet. Ligo a tv. RBS Notícias. 15 segundos de imagens dos estudantes protestando no centro. Na imagem, uma faixa que diz: "O povo na rua, Dário a culpa é sua". Nenhuma imagem de policiais. Nenhuma! Off do apresentador sobre as imagens foi mais ou menos assim: "professores estaduais realizaram manifestação hoje no centro da Capital contra o governo do Estado, chamada pelo Sinte".
???????
Nenhuma imagem de professor algum. Nenhuma menção ao protesto dos estudantes. Nenhuma menção ao protesto contra a criminalização dos movimentos sociais.
Sexta-feira, 13 de março.
7h30 da manhã. Minha mãe liga, já do Oeste, dizendo que chegou bem e tudo certo. Viram o protesto dos estudantes na saída, ficaram no engarrafamento algum tempo.
14h55: Estou terminando esse texto. No Diário.com há uma matéria mínima, reunindo todos os temas em quatro mínimos parágrafos, postada às 19h39 de ontem. Na edição impressa, que acessei via internet, uma matéria praticamente idêntica à já citada, diz o seguinte: "Chuva diminui protesto na Capital". A foto é da polícia militar e a legenda diz o seguinte: "Polícia Militar fez barreiras na área central para agir caso houvesse necessidade". Nenhuma fonte fala na matéria. A não ser a de sempre: "segundo a organização".
Preciso rever meus conceitos: o que é mesmo um repórter? O que é mesmo reportagem? O que é mesmo ir pra rua? O que é mesmo uma pauta? O que é mesmo o jornalismo?
Quinta-feira, 12 de março.
16 horas. Acompanho minha mãe, professora aposentada, na Assembleia do Sinte, no Centro Sul, em Florianópolis. Ela viajou 12 horas de ônibus, com outros colegas do Oeste catarinense, para participar da discussão do magistério estadual. Ponto principal: o governo do Estado não quer pagar o piso nacional, que agora é lei.
17 horas. Caminho em direção ao Ticen, terminal de ônibus do centro da Capital, acompanhada de dois amigos. Na calçada central da avenida que dá acesso ao terminal, o espaço está tomado pela polícia militar: tropa de choque, cavalaria, o escambau. A população quase não tem espaço para caminhar na calçada. Está garoando. Nos espaços cobertos fora do terminal, muitos, eu disse MUITOS, policiais se protegem da chuva. Eles estão por toda parte. É quase uma parada militar. Os estudantes preparavam um protesto contra o absurdo do transporte coletivo da cidade.
17h10. Começa a chover forte. Entro no terminal A. Um rapaz, agitado, fala no celular: - Cara, é muito PM! E eles vieram pra bater! Meu ímpeto é de ficar, acompanhar tudo. Mas preciso estar em casa logo, minha filha vai chegar da escola.
17h15: Entro no ônibus Volta ao Morro Pantanal Saída Norte. Escolho esta linha para passar, propositadamente, pelo movimento dos PMs. O ônibus passa pelo Centro Sul: os professores estão aglomerados na saída. Chove forte. Havia na programação uma manifestação contra a criminalização dos movimentos sociais, reunindo várias categorias.
17h40: Chego em casa, na Trindade. Estou muito preocupada com minha mãe, que ficou na muvuca, no Centro. Ela retornaria ao Oeste logo após a manifestação, no ônibus fretado pelos professores. Abro o Diário.com. Nenhuma linha! O centro da cidade está tomado de policiais militares. A secretaria de segurança do Estado colocou o efetivo inteiro da Capital na rua. Mas não é notícia, parece.
19 horas: Nada na Internet. Ligo a tv. RBS Notícias. 15 segundos de imagens dos estudantes protestando no centro. Na imagem, uma faixa que diz: "O povo na rua, Dário a culpa é sua". Nenhuma imagem de policiais. Nenhuma! Off do apresentador sobre as imagens foi mais ou menos assim: "professores estaduais realizaram manifestação hoje no centro da Capital contra o governo do Estado, chamada pelo Sinte".
???????
Nenhuma imagem de professor algum. Nenhuma menção ao protesto dos estudantes. Nenhuma menção ao protesto contra a criminalização dos movimentos sociais.
Sexta-feira, 13 de março.
7h30 da manhã. Minha mãe liga, já do Oeste, dizendo que chegou bem e tudo certo. Viram o protesto dos estudantes na saída, ficaram no engarrafamento algum tempo.
14h55: Estou terminando esse texto. No Diário.com há uma matéria mínima, reunindo todos os temas em quatro mínimos parágrafos, postada às 19h39 de ontem. Na edição impressa, que acessei via internet, uma matéria praticamente idêntica à já citada, diz o seguinte: "Chuva diminui protesto na Capital". A foto é da polícia militar e a legenda diz o seguinte: "Polícia Militar fez barreiras na área central para agir caso houvesse necessidade". Nenhuma fonte fala na matéria. A não ser a de sempre: "segundo a organização".
Preciso rever meus conceitos: o que é mesmo um repórter? O que é mesmo reportagem? O que é mesmo ir pra rua? O que é mesmo uma pauta? O que é mesmo o jornalismo?
4 comments:
E o que é mesmo a RBS?
Além de Rede de Baixos Salários? A empresa consegue esconder os fatos, sempre. Dá uma olhada na ZH. Viste alguma reportagem sobre os escandâlos do governo Yeda? Acho que teremos que ler a Veja( olho que naba, nega)pra poder saber o lamaçal em que aquele governo se meteu, pq na RBS não sai nada.
adri, falta sangue fervendo, suor na testa, calo nos pés. dá uma olhada nos formandos de jornalismo..a maioria quer ser a menina do tempo ou apresentador de telejornal. aquele tesão de se sentir testemunha ocular da história, de aproximar o leitor dos fatos.....cadê?
Que pena, né? Somente jornalismo burocrático, feito por telefone. É bem por aí, infelizmente, o que virou a redação de muitos jornais.
Como tou sempre do lado de cá da noticia, isso me fez lembrar nossas angústias ao organizar manifestações,
e não conseguir nenhuma palavra na imprensa...
Uma notinha quando se entra em greve,outra quando se sai,coisas assim.Com exceção da primeira,pelo ineditismo dela,o resto foi barra!
Coisas da vida... e do jornalismo,inteiro,Sil,não é só da RBS,embora a RBS seja das piores.
bj
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