Thursday, June 09, 2011

arte do Caio Cezar.
amanda e helena em cena!

Tuesday, April 26, 2011

Tão perto

Sebastiana mora sozinha numa pequena peça alugada, uma das muitas de uma casa branca e comprida de janelas marrom. Pequena e velha, cabem poucas coisas ali. Ela tem poucas coisas: uma cama, uma estante, um fogão. Também tem um filho internado para tratamento psiquiátrico, bem perto, menos de duas quadras da rua onde mora. Sebastiana é tranquila e lúcida. Do filho cuidou sempre. Sempre sozinha.
Ela sai de casa todos os dias. Bem cedo.

Pedro não move a perna direita. Vive de favor nos fundos de uma serralheria. O dono permitiu, mas Pedro não pode sair aos sábados e domingos. A serralheria fica fechada e as chaves com o Vilmar, o proprietário.

Sebastiana chega ao hospital antes das sete horas da manhã. Já é reconhecida por todos os funcionários e entra devagar, no seu passo velho. O filho tem dias de amuado, não fala com ela, passa assim, quieto. Sebastiana não se importa, admira o filho daquele jeito: é o que Deus deu. O marido, morto há 25 anos, batia nele. Mas ela não, ela sempre teve calma.

Apesar de não movimentar a perna direita, Pedro faz caminhadas todos os dias pela quadra. Empurrando um velho carrinho de supermercado, ele segue improvisando os passos. Com pedaços de uma bicicleta quebrada da serralheria, ele achou uma maneira de fazer exercícios. Disseram que é bom. Algumas coisas do corpo do Pedro também são da serralheria.

Sebastiana volta para casa pelas seis da tarde. Não tem dormido direito. O homem que aluga a peça do lado direito da sua bate nas paredes, arranca pedaços. Ela está procurando outro lugar, mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas velhas.
Encontra a mulher que mora na peça do lado esquerdo, com uma filha, as duas trabalham com antiguidades:
- A nossa velhinha, como vai a nossa velhinha...- diz a mulher. Encosta a mão no ombro de Sebastiana e ela dá um sorriso agradecido.
- E os negócios, minha filha... – Sebastiana sempre preocupada, querendo saber das pessoas e de suas vidas.
- Vendendo pouco, vendendo pouco.
As duas entram na casa branca e comprida de janelas marrom.

Pedro empurra o carrinho pela calçada de volta para a serralheria. Está atento ao movimento que acontece lá. Ele sabe que o Vilmar anda metido com coisa ruim. Durante a noite o movimento cresce ainda mais na serralheria. Pedro se tranca no quartinho, fica quieto. Eles vêm aqui, cheiram e ficam loucos. Pedro pensa em mudar de lugar, procurar outra casa. Mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas velhas. Antes de entrar na serralheria, Pedro ouve uma porta batendo e olha para o outro lado da rua: uma casa branca e comprida de janelas marrom.


***Adriane Canan
*Conto publicado no livro do 6 Concurso de Conto e Poesia do Sinergia.

Saturday, April 09, 2011

Fífi em: "Minha caixa, Minha vida"



Thursday, November 25, 2010

Vértigo

Tinha pés miúdos, lembro bem. E, mesmo assim, subia depressa. Sim, depressa, mas com o cuidado de quem ajeita as flores de um caixão. Pé ali, pé aqui. Pé ali, pé aqui.
E eu ficava lá, boba, olhando. Aos 16 anos, achava que não alcançaria, nunca, a certeza de seus pés pequenos de menino sobre o tronco daquela árvore cheia de rugas e segredos nossos.
Tinha medo, na verdade. Tinha medo.
Um dia, talvez, eu arrancaria com os dentes alguma coragem, do fundo de meu pânico, e subiria rápido também.
Só não esperava aquele gesto. Não dele.
- Vem – disse-me.
E eu, louca de raiva - saliva doce entre os lábios -, alcancei-lhe a mão.
Foi o começo do abismo.

Passei a viver da vertigem.
Anotava cada dia depois de dia num caderninho velho.
Abismo, abismo.
Sonhava-me com asas nos pés. E anotava. Sonhava-me um tronco forte. Sem medos. E escrevia lá cada detalhe de minha fortaleza. Enxergava seus pés miúdos e certeiros procurando os meus, débeis.

Fui ele mesmo, o abismo. Tentação súbita, ao seu lado.
Era exato e certeiro, sempre. Segurava-me como árvore frondosa. E dava-me às alturas. Árvore-homem-árvore.

Passei os anos vivendo a vertigem.
Até o fim.
Apoiando-me nas paredes, subi as escadas tortas. Segurando-me em meus braços, vinha eu. Olhei para cima, antes. A mesma sensação encravada no peito, como pedra atirada em ninho-passarinho. Tentei seguir-lhe o exemplo: pé aqui, pé ali.
Faltou-me a mão estendida:
- Vem.
Faltou-me. Estava presa ao gesto:
- Vem.
Subi, lenta. Saliva fria entre os lábios. Nenhuma raiva.
Já no alto, alívio-dor.
Abri a porta do quarto, sentia o cheiro ácido do desespero.
Aproximei-me da cama. Olhos fechados, nenhum suspiro, último. Pareceu-me, assim mesmo, com a certeza de sempre.
Dei-lhe um beijo nos pés miúdos. Beijei-lhe todos os pedaços, com o cuidado de quem se despede.
Foi, eterno, o começo do abismo.

Da oficina de contos do SESC [primeiro semestre de 2008]

Monday, November 08, 2010

Lançamento no Oeste!


Tuesday, October 19, 2010

Celibato no Campo

Orgulho de ver o trailer do documentário Celibato no Campo, dos queridos amigos Ilka e Miro! Fizeram um lindo trabalho, com sensibilidade, respeito e competência.
Sucesso, queridos!

Veja o trailer e mais infos sobre o doc: www.margotproducoes.com.br

Sunday, October 10, 2010

esperando atendimento...


Fortaleza da Barra da Lagoa, Fpolis - domingo, 10.10.10