Wednesday, September 23, 2009

O velório de Jesus Cristo

Aconteceu em Porto Alegre, alguns anos atrás.
Era uma Sexta-feira Santa. Eu estava em casa, na Cidade Baixa.
Telefone.

- Oi, Adri! Vamos comigo na missa? Faz tempo que não vou...

- Tá, tudo bem, vou contigo.

Roci, minha amiga cearense que também morava no Rio Grande naqueles dias, passaria em quinze minutos pra me buscar. E passou.

Centro de Porto. Estacionamos na Duque de Caxias, do ladinho do Palácio Piratini, eram perto das seis da tarde.

Sucedeu que naquele dia um ex-governador gaúcho era velado justo ali, no Palácio. E sucedeu também que bem na hora em que estávamos por passar pela frente da porta do Piratini despontou o caixão, carregado por senhores distintíssimos que não vem ao caso mencionar. Como talvez dissesse Machado de Assis, o leitor e a leitora que me desculpem, mas falta não há de fazer deixar de nomeá-los.

Fomos barradas pelos seguranças. Deixem o morto passar, e também os muito vivos que carregam seu peso. Podíamos ter contornado a Praça da Matriz, bem volteando em frente da Assembléia Legislativa e do Teatro São Pedro. Mas não, ficamos ali, bisbilhotando o cortejo fúnebre.

Passados alguns minutos, do morto só o cheiro das velas. Embalamos passos largos até a Catedral, pensando-nos atrasadas para qualquer missa a caminho; mas sem deixar, é claro, de confabular sobre os trejeitos de cada um dos que seguravam as alças. Só não falamos do morto, de quem sequer vimos a brancura funesta.

Entramos na Catedral. Vazia! Eu me sentei bem ao fundo, que Ave Maria bem rezada, ali no cantinho, já estava para mim de ótimo tamanho. Roci não contentou. Andou até perto do altar e ficou se espichando para tentar ver o que passava no meio de um bolinho de gente que ali se espremia. Baixinha como esta que vos escreve, viu pouca coisa. Mas o que viu, veio me contar:

- Ô, Adri, tu não vai acreditar! Outro velório! Vamos pra uma igreja que tenha missa, pelamordedeus!

Saímos. Nas escadarias, demos de cara com um padre, bem vestido de padre, e uma freira, da mesma forma nos moldes para a ocasião. Roci não aguentou:

- Ô, Seu Padre, boa tarde... Que horas é a missa?

- É sete horas, minha filha...

- Ah, tá certo...E me diga uma coisa, por favor, quem é o morto ali de dentro?

O Padre ficou branquinho que só. A freira só não fez o sinal da cruz por pura piedade de nós.

- Minha filha, aquela ali é a estátua do Senhor Morto! Hoje é Sexta-feria Santa!

A Roci, que perde o lugar no céu, mas não a piada:

- Ô, Seu Padre, que beleza, ãh...Hoje só tem defunto bom!!! Ali ex-governador, aqui Jesus Cristo! Vou te dizer, hoje só a diretoria!

Eu sai de fininho, nem vi a cara do padre. Ela veio atrás. Nem fomos mais na missa. Decidimos ir pra Cidade Baixa tomar uma cerveja. Afinal, não é todos os dias que se vai ao velório de Jesus Cristo e de um ex-governador numa tacada só.
Ideia fixa

A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se ideia fixa. Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.

[Brás Cubas, em suas Memórias Póstumas]

Tuesday, September 22, 2009

Ó o DOC aí ó...

A I Mostra Nacional de Documentários de Chapecó começa hoje.
Parabéns ao povo que pensa e produz cinema por lá. Muito bacana!


A programação está aqui

Friday, September 11, 2009

Volvió la Regina

Regininha Carvalho blogando novamente no Grandes Autores Catarinenses

Ela explica: Para divulgar alguns textos de autores da terrinha, vivos e mortos, sem preocupação em sistematizar, só em divulgar o que é bom...

Passa lá, entonces!

Tuesday, September 01, 2009

[o que vale é se querer... ]