Tuesday, September 30, 2008

Republicando [conversa com Amanda, de janeiro de 2007)


Sobre o céu

Eu e Amanda voltamos de Florianópolis pra Chapecó de avião, no domingo passado, dia 7 de janeiro. A Gol tem umas promoções boas e até o povo do Old West agora tem vez nos céus catarinenses. E o céu estava lindão. Azul com nuvens branquinhas, branquinhas.

Amanda:

- Mãe, é assim que é o céu?

Eu:

- É, estamos no céu. Que lindo, né? Parece que estamos num sonho!

Amanda:

- Mãe, me conta a verdade?

Eu:

- Que verdade, filha?

Amanda:

- Sobre o céu, ué. Você sabe toda a verdade sobre o céu?

Eu:

- Só sei que é bonito, olha ali que lindo, tão azulzinho!

Amanda:

- A vovó disse que a gente fica invisível quando vai pro céu. Eu não quero ficar invisível. Queria brincar assim, como sou!

Eu:

- Mas estamos no céu e estamos brincando de sonhar no meio das nuvens!

Amanda:

- É, pode ser. Mas acho que ainda não sei toda a verdade sobre o céu. A vovó deve saber. Um dia ela me conta.

Thursday, September 11, 2008

De fraternidades

Andava a passos rápidos. Queria comprar flores. Tinha pressa. Quase corria, na verdade. Quase corria. Não fosse assim, perderia o enterro do irmão.

Álvaro era, antes de tudo, seu irmão. Sim, seu. Mesmo que se perdesse entre os seis que a vida impusera, era ele o mais irmão.

Corria, quase. Não fosse assim, perderia o enterro do irmão.

Álvaro crescera entre cuidados, nascido frágil, de sete meses. Puxava-o, anos a fio, ele sentado no carrinho de madeira. Adorava. Foi até os 8 anos de Álvaro. Seus 11.

Corria. Talvez comprasse lírios.

Na adolescência de Álvaro, faltou-lhes a mãe. Cada irmão seguiu caminho. Álvaro ficou com a avó. Lembrava-lhe o choro na despedida.

Doiam-lhe os pés, a esta altura. Quase sem fôlego, dobrou a esquina. Encontrou aberta a floricultura. Sentiu frio.

Tuesday, September 09, 2008

Duas vezes, acreditar

Se, a sobressaltos, o coração quase insone
teme minutos futuros
Vem, rápida, a esperança e a fé-mãe
dizendo: paciência!

[Deus está por perto
e não abandona o inocente]

Thursday, September 04, 2008

Depois de quase tudo

Oito meses, quatro dias, três horas e cinco minutos. Ela contava o tempo a partir do fim. Era como se, depois daquele adeus, a vida tivesse realmente começado. Ela havia decidido assim. E estava dando certo. Estava.

Foi na esquina da padaria. Um lugar qualquer, num momento qualquer, final de tarde, depois de tudo. A respiração começou a se alterar, do nada. Estranho, suava, de repente. Colocou a mão no peito: coração batia descompassado. Chorou.

Pequena lembrança, mínima, atravessara-lhe a mente. Teria que recomeçar a contagem.