Thursday, August 30, 2007

espero que tudo isso termine logo
logo

Sunday, August 26, 2007

***experimentações digitais de amanda canan campos:


# mais algumas da amanda:







Sunday, August 12, 2007

Da série Contos de Gaveta:

(3)
Tão perto
(Adriane Canan - Porto Alegre, 2001)

Sebastiana mora sozinha numa peça alugada. Pequena e velha, cabem poucas coisas ali. Ela tem poucas coisas: uma cama, uma estante, um televisor, um fogão. Também tem um filho internado para tratamento psiquiátrico, bem perto, duas quadras da rua onde mora. Sebastiana é tranqüila e lúcida: o filho ela trata desde bem pequeno!
Ela sai todos os dias cedo.

Pedro não move a perna direita. Vive de favor nos fundos de uma serralheria. O dono permitiu, mas Pedro não pode sair aos sábados e domingos. A serralheria fica fechada, as chaves ficam com o Vilmar, o proprietário.

Sebastiana chega ao hospital antes das sete horas da manhã. Já é conhecida por todos os funcionários e entra devagar, no seu passo velho. O filho tem dias de amuado, não fala com ela, passa assim, quieto. Sebastiana não se importa, admira o filho daquele jeito: é o que Deus deu. O marido, morto há 25 anos, batia nele. Mas ela não, ela sempre teve calma.

Apesar de não movimentar a perna direita, Pedro faz caminhadas todos os dias pela quadra. Empurrando um velho carrinho de supermercado ele segue improvisando os passos. Com pedaços de uma bicicleta velha da serralheria ele achou também uma maneira de fazer exercícios. O médico fala que é bom. Algumas coisas do corpo do Pedro também são da serralheria.

Sebastiana volta para casa pelas seis da tarde. Não tem dormido direito. O homem que aluga a peça ao lado bate nas paredes, arranca pedaços. Ela está procurando outro lugar - o aluguel está alto, cortaram a luz e a água -, mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Encontra a mulher que mora na peça ao lado, com a filha, as duas trabalham com antigüidades.
- E a nossa velhinha? Como vai a nossa velhinha? - diz a mulher. Ela encosta a mão no ombro de Sebastiana e ela dá um sorriso agradecido.
- E os negócios, minha filha? - Sebastiana sempre preocupada, querendo saber das pessoas e de suas vidas.
- Vendendo pouco, vendendo pouco.
As duas entram na casa branca e comprida de janelas marrom.

Pedro empurra o carrinho de volta à serralheria. Está atento ao movimento que acontece lá. Ele sabe que o Vilmar anda metido com drogas. Durante a noite o movimento cresce ainda mais na serralheria. Pedro se tranca no quartinho, fica quieto. Eles vêm aqui, cheiram e ficam loucos. Pedro pensa em mudar de lugar, procurar outra casa. Mas é coisa demorada, é difícil encontrar espaço para algumas coisas. Antes de entrar na serralheira, Pedro ouve uma porta batendo e olha para outro lado da rua.
É uma casa branca e comprida de janelas marrom.

Tuesday, August 07, 2007

De Historias de Cronopios y de Famas, de Julio Cortázar:





Instrucciones para llorar

Dejando de lado los motivos, atengámonos a la manera correcta de llorar, entendiendo por esto un llanto que no ingrese en el escándalo, ni que insulte a la sonrisa con su paralela y torpe semejanza. El llanto medio u ordinario consiste en una contracción general del rostro y un sonido espasmódico acompañado de lágrimas y mocos, estos últimos al final, pues el llanto se acaba en el momento en que uno se suena enérgicamente.

Para llorar, dirija la imaginación hacia usted mismo, y si esto le resulta imposible por haber contraído el hábito de creer en el mundo exterior, piense en un pato cubierto de hormigas o en esos golfos del estrecho de Magallanes en los que no entra nadie, nunca.

Llegado el llanto, se tapará con decoro el rostro usando ambas manos con la palma hacia dentro. Los niños llorarán con la manga del saco contra la cara, y de preferencia en un rincón del cuarto. Duración media del llanto, tres minutos.



Sunday, August 05, 2007

Da série Contos de Gaveta:
(2)
Beleza
(Adriane Canan, Porto Alegre, 2001)

Pinta os olhos com força. Realça. Verde em todo o contorno. Em cima. Embaixo. O espelho é pequeno mas ela vê tudo. É de manhã cedinho. Os taxistas que vararam a noite ainda conversam alto na frente do Bar Carinhoso. Dois ou três restos de madrugada vagam pelo início do dia. Bêbados.
Agora coloca os brincos. Grandes. Vistosos. Dourados. Dá mais uma olhada no espelho. Uma olhada de cada lado. Bonito! Começam a passar os primeiros ônibus da manhã. Rápidos. Mais um dia começa naquela esquina.
Depois de seis anos morando num abrigo, ela decidiu procurar a rua. Cansou da cara das pessoas, cansou do lugar.
Ela era realmente um doce de pessoa, só queria descobrir outras coisas. Acordou mais cedo um dia, talvez uma segunda-feira, juntou um saco plástico, uma muda de roupa, um estojo de maquiagem que ganhara de uma amiga. E só. Saiu como quem sai de passeio, como quem sai por aí.
No começo ela foi procurada. Mas por pouco tempo. Buscou um lugar fixo, só para dormir. Encontrou uma calçada, uma calçada movimentada, um cantinho perto da porta do Bar Carinhoso, que enchia de gente nas noites de pagode. Ali se sentia acolhida, menos só.
O barulho começa cedo da manhã na esquina. No meio das coisas estendidas na calçada ela procura o vestido preto. Acha. Tira a roupa amassada da noite mal dormida. Coloca o vestido amassado, tirado do saco de suas poucas coisas. O fecho fica aberto. Está quebrado. Passam pela rua dois rapazes que trabalham na padaria.
O sapato é daqueles de plástico. Fáceis de colocar, ainda mais com duas tiras cortadas. Aquelas que apertavam muito. Está pronta. Junta os pertences do chão. O saco preto tem bastante espaço. Como travesseiro ela costuma usar uma blusa velha de lã. Daí é só dobrar e ensacar.
Toca o sino da Igreja da Sagrada Família. Sete horas. Ela sai para procurar o café da manhã. Vai voltar lá pelas seis da tarde, deixa dito aos taxistas que têm ponto na frente daquela esquina.

Friday, August 03, 2007

Da série Contos de Gaveta:

(1)
Final Feliz
(Adriane Canan)

Naquele dia banhou-se como nunca havia feito com sabonete novo e depois usou perfume comprado de catálogo dos mais caros para ficar demais cheirosa e preparada. Depois no roupeiro procurou o vestido branco de renda nos braços finos. Colocou-o com tranqüilidade e com olhar profundo no espelho.
Os cabelos ainda estavam por pentear e esperavam por eles os dois prendedores plásticos da cor do vestido que já estava vestido. Faltava o sapato que era talvez velho e de pouco uso.
Eram oito horas da manhã e saiu de casa arrumada. Passeou na cidade pequena com seus olhos guardando cada pedaço. Tinha deixado tudo pronto em casa e as horas passaram lentamente naquele sábado. Seria um dia com final feliz. Voltou já era noite. Foi enterrada junto ao noivo motorista de caminhão que um dia não voltou de viagem.

La Latina: cinema latino-americano

Descobri um blog bem legal. Chama-se La Latina e é de uma ex-aluna da Escuela Internacional de Cine y Televisión de Cuba, Camila Moraes. Muita informação sobre cinema latino-americano. Vale espiar sempre!
Outra dica é o Cuba-Cursos com informações sobre a EICTV e todos os cursos oferecidos lá.

Wednesday, August 01, 2007


O sétimo selo, de Bergman, produção de 1956

Blow-Up, 1966, de Antonioni: imperdível



Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman: uma "despedida-argumento"

Início de semana com despedidas cinematográficas.
A morte de dois grandes diretores no mesmo dia, o italiano Antonioni, 94 anos, e o sueco Ingmar Bergman, 89 anos, nesta segunda, 30, é um belo argumento para um filme.
Paris, Je T'Aime

Vi em Porto Alegre, no final de semana, o filme Paris, Je T'Aime. São 21 curtas de diretores de vários países. Histórias curtas e delicadas sobre personagens em Paris. Recomendo!